domingo, 25 de novembro de 2018

Lucy in the sky with diamonds.

Ontem eu tava refletindo sobre a vida e percebi que as coisas começaram a realmente dar errado pra mim quando eu parei, sem querer, de dedicar pelo menos alguns minutos da minha semana pra ficar olhando o céu, sem motivo nenhum. Nunca agradeci o suficiente a Milena, quando a praticamente 10 anos atrás, ela fez com que eu me apaixonasse pelo céu e por tudo o que ele representa e signifca. Sempre foi uma das coisas que me revigoravam, que fazia com que eu ponderasse sobre o quão insignificantes nós somos diante de tanta imensidão, de tanta magnitude, de tanta beleza. Se você que tá lendo isso agora vive uma vida de merda e precisa de uns minutinhos pra se desligar da realidade e do que acontece ao redor de uma maneira saudável, sente-se e olhe o céu. Funciona.

Cya.

terça-feira, 2 de outubro de 2018

You gotta, oh.

"Whatever you do, don't ever play my game
Too many years being the king of pain
You gotta lose it all if you wanna take control
Sell yourself to save your soul
Rescue me from the demons in my mind
Rescue me from the lovers in my life
Rescue me from the demons in my mind
Rescue me, rescue me, rescue me
Rescue me
Whatever you do, don't ever lose your faith
The devil's quick to love, lust and pain
Better to say yes to never know, oh, oh
Sell yourself to save your soul" - 30STM.

Cya.

quarta-feira, 29 de agosto de 2018

Coragem e medo.

Esse monte de bosta que eu vou vomitar agora parece coisa de Duncan, mas é só de Dante mesmo. Eu sempre me pego observando e invejando do meu esconderijo covarde a motivação que as pessoas tem de se aventurar pelo mundo, de abandonar certas coisas pra trás, de sair da sua zona de conforto, de tentar caminhos diferentes dos usuais. E apesar de ser frase de filme de herói, sempre me bate a reflexão de tentar entender até onde é coragem e até onde é medo o que motiva essas pessoas a fazerem sempre mais do que é esperado, dentro dos seus limites.
Assisti uma palestra do Eduardo Marinho em que ele diz que as pessoas sempre interpretaram a sua iniciativa de abandonar tudo como uma coragem invejável, enquanto ele afirma que o que mais o motivou foi o medo de ter uma vida sem sentido. Hoje, se eu me indago sobre o mesmo, é um medo excessivo. Um medo absurdo e infundado, quase que inconsciente, de tentar coisas novas. Medo digno de me fazer diariamente deitar na cama em posição fetal e esperar que um belo dia eu tenha a coragem de lidar com o o mesmo e finalmente dar cabo de tudo. De parar de ser covarde até pra isso.
Mas se há a opção de solucionar isso com um abandono absoluto de tudo, por que a minha vontade de não ter uma vida sem sentido não me motiva tanto quanto a sair daqui? A matar esse pessoa que me prende pra baixo e me esmurra a cara sempre que eu tento sair da minha jaula, de deixar nascer uma nova que vai ter a coragem o suficiente pra buscar algo novo? Novas perspectivas, novas visões, novas aventuras e novos caminhos.
O conteúdo dessa junção de palavras são o mesmo que tenho da vida: muitas perguntas, quase nenhuma resposta, menos ainda motivação, seja pelo medo ou pela coragem. Esse é o tipo de pessoa que a seleção natural teria facilidade em eliminar, não fossem as circunstâncias favoráveis que eu tivesse pra ter tempo de ficar na cama pensando nessas porcarias.
E quando se está parado, a perspectiva é de que o mundo tá passando cada vez mais rápido ao seu redor, de que você tem cada vez menos tempo pra tentar quebrar do casulo e voar, que as oportunidades de fazer tudo isso ficarão cada vez mais escassas. Como se não bastasse a pressão em que eu me coloco o tempo inteiro, sabotando qualquer vestígio de luz no fim do túnel, tem a pressão externa com que a gente tem que lidar. A analogia mais apropriada pra tudo isso é de que uma parede que vem de dentro te empurra dum lado, enquanto as perguntas de "você precisa se motivar, sair disso, precisa fazer algo da vida!" são a parede que te fecham do outro lado culminando num esmagamento.
Tudo que eu espero é que algo acabe me esmagando de vez mesmo, me libertando finalmente desse desespero.

Como eu digo desde o início do blog, a maioria das coisas que eu escrevo não faz sentido algum.

Cya.

segunda-feira, 27 de agosto de 2018

Longe do horizonte.

Lorann era uma frágil efígie que parecia ter nascido como uma das mulheres mais maravilhosas que eu em infinitas vidas não ousaria sonhar. Nas qualidades que tínhamos em comum me superava, e nos defeitos me mostrava, numa apresentação homérica, como eu deveria ser. Estar na companhia dela era como uma tarde no parque, onde nos deitávamos de frente para o céu azul com ligeiras pinceladas de cinza, sentindo o cheiro gostoso que emanava da grama verde que fora beijada pelo orvalho da manhã, ouvindo o som dos galhos das árvores valsando em harmonia com o vento, observando a queda das folhas amareladas que cortavam o ar, girando e flertando com a queda iminente ao chão.

Eu fiquei por um longo momento sentado no chão, escorando minhas costas na parede gelada, encarando de frente a porta dela com a minha expressão mais pálida. Essa porta, que eu sabia que não se abriria mais. Não havia mais chave por cima da lamparina de metal, da qual eu havia reforçado para que ela não queimasse as pontas dos dedos quando a recolhesse. O sorriso de bordas curvadas não sairia mais dali, aquela paz jamais viria de novo ao meu encontro, ela não me pertencia mais. Nunca pertenceu. Eu tinha me apaixonado por tudo de bom que ela representava, pelo refúgio que minha mente rebelde encontrava na manumissão graciosa que ela dispunha ao meu ego flagelado.
O seu espírito livre me emprestava a sensação que há muito me havia sido privada e, mesmo depois de tudo que compartilhamos, eu sabia que ela não era minha. Eu não podia entregá-la essa responsabilidade de pertencer a alguém, principalmente a mim. Por momentos, eu a tinha comigo. Mas se eu a tivesse de vez, a aprisionaria na mesma cela suja e gelada em que eu vivia. Deixei-a ir. O céu que ficava há poucos metros do meu inferno se foi, voltando ao estado natural, aquele que apenas os limites do horizonte uniam. Meu inferno pessoal, que só pertencia a mim. Aquele que eu não poderia mais convidar alguém pra visitá-lo. Nunca mais.

quarta-feira, 22 de agosto de 2018

No silêncio dos olhos.

"Em que língua se diz, em que nação,
Em que outra humanidade se aprendeu
A palavra que ordene a confusão
Que neste remoinho se teceu?
Que murmúrio de vento, que dourados
Cantos de ave pousada em altos ramos
Dirão, em som, as coisas que, calados,
No silêncio dos olhos confessamos?" - Saramago.

Cya.

sexta-feira, 17 de agosto de 2018

FAQ 2.

Há alguns anos eu fiz um Frequently Asked Questions pra esclarecer algumas coisas que as pessoas me perguntavam em relação ao blog e, devido à minha ausência nos últimos tempos, achei necessário deixar uma nota.

Não, eu não parei com o projeto do livro. Ele continua rodando nos bastidores, salvo tudo aqui no PC mas me reservei ao direito de me abster de publicá-lo em trechos aqui no blog. Isso não se deve ao fato de conflito de ego, ou de "suspense" sobre alguma porcaria do conteúdo nem nada disso. O processo de criação dele e a minha relação emocional e psicológica com o enredo funciona como uma espécie de cordão umbilical. Cada palavra é ligada a um sentimento e ambos me nutrem com veneno, se me é permitido tal analogia contraditória. Geralmente, quando temos esse tipo de relação com alguma coisa, nos sentimos expostos e frágeis de alguma forma. Talvez eu continue soltando alguns trechos importantes aqui, mas talvez eu também prefira expurgar tudo de uma vez, quando o meu sonho de publicá-lo oficialmente se concretizar. Vomitar aos poucos faz mal, e esse veneno precisa ser removido de uma vez só.

Eu funciono por processos cíclicos, como naturalmente qualquer coisa funciona. É por esse motivo que eu às vezes fico um tempo sem compartilhar algum trecho de alguma música ou poema de merda sobre algo sem sentido. Dentro desses ciclos, eu tenho dois padrões: a escrita subjetiva, subentendida e vítima de metáforas e analogias, onde as coisas que saem de mim são, como sempre insisto em dizer, vomitadas; do outro lado, tenho o padrão do abstrato, que são esses períodos de ausência. São épocas em que minha cabeça se torna um turbilhão de pensamentos e ideias tão grande que não consigo conceber uma maneira que faça o mínimo de sentido pra expressá-los, por isso evito. O blog não fica esquecido, de maneira alguma. Leio, releio, vou lá nas primeiras publicações, revejo meus conceitos, meus antigos pensamentos, reflito, pondero. Mas não encontro maneiras de tentar jogar "no papel" qualquer tipo de coisa.

Qualquer outra dúvida, sugestão, indagação, contestação etc, passe aqui em casa, me convide pra tomar um café e vamos discutir sobre, pra mim será sempre um prazer.

Cya.

segunda-feira, 30 de julho de 2018

Domingo.

E enquanto eu gasto meu tempo abraçando as garrafas
O teu rosto ausente me diz que isso não vale de nada.

Enquanto eu desperdiço meu dinheiro numa saída
A tua voz quente no meu pescoço barra o frio dum outro peito.

Enquanto eu gasto minha paz procurando um outro alguém
O teu colo vazio se preenche de um outro cheiro.

Enquanto eu vago e minhas pernas se cansam
O teu nome é o que chamo.

Cya.

terça-feira, 3 de julho de 2018

Não deixe.

"Não deixe as pessoas serem
seu alicerce.
nem as garotas jovens
nem as garotas velhas
nem os homens jovens
nem os homens velhos
nem aqueles no meio-termo
nenhum deles,
não deixe as pessoas serem
seu alicerce.

Ao invés disso
construa na areia
construa no lixão
construa na fossa
construa nos túmulos
construa na água,
mas não construa nas
pessoas.

Elas são uma aposta ruim,
a pior aposta que você pode fazer.

Construa em outro lugar,
qualquer outro,
qualquer
mas não nas pessoas,
massas
sem cabeça, sem coração
emporcalhando os
séculos,
os dias,
as noites,
as cidades, os municípios,
as nações,
a Terra,
a estratosfera,
emporcalhando a
luz,
emporcalhando todas
as chances,
aqui,
emporcalhando completamente
tudo
agora
e amanhã.

Qualquer coisa
comparada às pessoas,
é um alicerce melhor a se procurar.

Qualquer coisa." -  C. Bukowski.

terça-feira, 19 de junho de 2018

Mudo.

"A falta de visão que nos levou a tudo isso
Foi tão difícil de se acostumar
Só quero olhar pra frente e esquecer você
Saber o meu lugar
Em outros dias, em um tempo atrás
Eu me encontrei perdido entre as cartas que você deixou
Lembranças que o tempo apagou
E se você não quiser ouvir
As canções já não me dizem mais nada
Poderiam dizer

Preciso te lembrar como tu era no início
Era um vício difícil de deixar
Procuro em tanta gente um espelho teu
Não vejo nada, não vejo nada

Tentando ser o que eu já não sou mais
Eu vivi escondido em um mundo que você criou
E nunca mais voltou pra me libertar
E eu que não sei aonde chegar
Já caminhei tanto pra encontrar
E eu que não sei como te falar
Já escrevi tanto pra cantar

Mas se você não quiser ouvir
As canções já não me dizem mais nada." - Esteban.

Cya.

Lúcifer.

Eu costumava ser cruel comigo mesmo, o tempo todo. Assumir isso talvez fosse a coisa mais gentil que fiz nos últimos dias pra mim mesmo. Já não era uma questão de problemas com a minha auto-estima, era auto-destruição nua e crua. Eu flertava com os surtos de dar fim naquela dor toda, mesmo que isso significasse abdicar da minha vida. Mas acabar com a vida? Isso eu já fazia diariamente. Eu era um mestre em sabotar meus (possíveis) relacionamentos, todos os que tive depois de Gail. Eu estipulava metas e objetivos dos quais eu sabia não serem possíveis de serem alcançados, fosse no meu apartamento, no meu trabalho, enfim, e me julgar um fracasso por não conseguir lidar com as mais simples coisas do meu dia. Eu maltratava meus sentimentos, eu julgava minhas emoções, era difícil até pra me encarar no espelho. O Duncan que vivia dentro de mim tinha por diversão sádica esmurrar meu rosto toda vez que eu buscava por alívio e conforto em mim mesmo, nem que fosse num semblante sincero - ou mesmo dissimulado - de que tudo ia ficar bem...

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Hoje era meu primeiro dia de afastamento compulsório do trabalho. Eu sabia que a clínica iria ficar bem sem mim, principalmente pelo fato de que eles não precisavam de um psicólogo desequilibrado lá - era o que menos precisavam, pra ser sincero. Já não sei se o mesmo aconteceria comigo. Não sabia mais viver sem aquela rotina quadrada que retinha os meus esforços de uma certa maneira "construtiva" e não desperdiçada em sessões de tortura emocional enquanto eu ficava em casa ou perdido pela cidade buscando sentido em alguma coisa.
Hoje, o melhor que eu tinha era meu traseiro afundado na minha poltrona, com o traseiro da minha gata afundado no meu colo, tomando uma caneca de café bem quente pra acompanhar o Good Morning America que rolava na TV. Bom, pelo menos por hoje eu não queria começar o dia com um whisky, a cafeína com certeza faria um efeito melhor no meu corpo, muito melhor do que álcool. Eu precisava de ânimo, não de uma crise choro.
Alguém bateu na porta, de maneira delicada e sutil, me salvando da crise hipnótica de ópio social que eu me encontrava assistindo ao show da TV. Levantei pronto a agradecer meu herói misterioso. Ao abrir a porta, minha heroína me recebeu com um bom dia extasiado. Era Lorann.
Confesso que sou uma pessoa extremamente mal humorada de manhã, daquelas que dão "bom dia" por obrigação, e olhe lá, sem nem fingir um sorriso amistoso de acompanhamento. Pra uma visita inesperada não ser mal recebida, não dependia de mim, e sim de quem estivesse do outro lado da porta. Minha lista de exceções era bem restrita: minha mãe, meus irmãos ou meus sobrinhos, ou a Cléo me lambendo o rosto na cama pra que eu levantasse e a colocasse seu café da manhã. Mas depois que aquela moça havia se mudado pro apartamento ao lado, a cada dia que se passava eu torcia pra que qualquer falta de açúcar, ameaça de terremoto ou ajuda com alguma barata no apartamento fossem motivos pra que ela viesse até mim, até mesmo às quatro da manhã.
Ela tinha um sotaque ligeiramente francês que, em outras pessoas, seria cômico. Afinal, ela era americana e aquilo transformaria qualquer um num bobo. Mas nela criava um limiar tênue entre algo sexy e algo fofo. Só aquele "bom dia" já tinha uma capacidade absurda de colocar um sorriso no meu rosto com uma facilidade tão grande quanto ela mesma tinha de me oferecer um sorriso.
- Eu sei que ainda é quinta feira, mas eu vou te levar pra almoçar, ok?! Estou avisando, não convidando. - ela disse. - Você precisa sair de casa, esfriar a cabeça, e precisamos comer, afinal. Ainda estou me adaptando ao estilo de Nova York e preciso de companhia, não consigo ser um lobo solitário com a mesma facilidade que você, Dun.
Acho que pela primeira vez no ano consegui sorrir de manhã de forma sincera pra algo tão simples. Não tinha como recusar, eu sentia uma vontade absurda de estar na companhia dela. Eu sentia uma vontade absurda de estar na companhia de qualquer um, na verdade, mas nada me alegraria mais que fosse a dela.

Cya.

No one ever.

"Lately, I've been, I've been losing sleep
Dreaming about the things we could be
But baby, I've been, I've been praying hard
Said, no more counting dollars
We'll be counting stars
Yeah, we'll be counting stars." - One Republic.

Essa música me lembra um dos meus maiores arrependimentos dos últimos tempos. Cya.

terça-feira, 12 de junho de 2018

Retrato.

"Eu não tinha este rosto de hoje,
assim calmo, assim triste, assim magro,
nem estes olhos tão vazios,
nem o lábio amargo.

Eu não tinha estas mãos sem força,
tão paradas e frias e mortas;
eu não tinha este coração
que nem se mostra.

Eu não dei por esta mudança,
tão simples, tão certa, tão fácil:
- Em que espelho ficou perdida
a minha face?" - Cecília Meireles.

Cya.

sábado, 19 de maio de 2018

Um ano pra lembrar.

Que tu te vejas todo dia e
comece a se lembrar
Que não há palidez no teu espelho
e nem vazio no teu olhar

Da pele morena e
dos pingos de tinta
Do sorriso de encanto e
da saudade faminta

Ao passo que me perco
no enrolar dos teus cabelos
Nas curvas do teu corpo,
no teu sorriso de apelo

Te serei o lembrete
de Janeiro à Janeiro
Que das formas femininas mais perfeitas
A tua é a maior, maior do mundo inteiro.

Cya.

segunda-feira, 14 de maio de 2018

Anjo.

Encarei meu olhar ébrio no espelho do elevador enquanto os números roletavam no painel digital. As pessoas costumavam me dizer que eu possuía um semblante sério natural - coisa que herdei do meu pai - e que não fazia jus nenhum ao meu comportamento palhaço, segundo as mesmas. Entretanto, sob efeito de bourbon, minha expressão soava mais como "amarrada", talvez esse seja o termo mais apropriado. Testas franzidas, olhos cerrados, cara de poucos amigos. Um perfeito reflexo da grande diferença entre os meus rotineiros pileques: A cerveja me deixava de bom humor, o whisky me deprimia. O final das canecas de cerveja me faziam amar os amigos com quem eu bebia; já no fundo de cada garrafa de whisky eu não encontrava as respostas, mas pelo menos encontrava alguns motivos pra aquietar minha mente das perguntas.
Assim que a porta do elevador se abriu, os raios do sol matutino já se derramavam pelo lobe. As luzes refletidas no chão claro machucavam os olhos de quem não havia dormido ainda. Tomei a direção da porta do meu apartamento, e quando finalmente o borrão escuro foi esvaecendo, dei de cara com uma figura de um anjo, que reagiu exatamente da mesma forma que eu, como um reflexo. Não sei se o efeito das luzes amarelas que a tornavam angelical ou se eram seus traços perfeitos e agressivos aliados àquele sorriso tímido que ela me lançou, causando, por ironia, um efeito diabólico na sua feição.
O tempo parou apenas por alguns segundos, não o bastante pra recuperar minha sobriedade enquanto eu a olhava, mas o suficiente pra parecer que eu tinha muito tempo pra conseguir refletir o quão encantadora era ela. Conforme minha visão se acostumava à luz, consegui ponderar sobre cada detalhe, em câmera lenta, como um comercial de televisão. Os cabelos cor de avelã, que desciam lisos pelas laterais da testa e levemente se rendiam às curvas de suas bochechas rosadas, até terminarem na altura do peito. Voltei meus olhos de novo às bochechas, que de maneira tímida tentavam esconder as delicadas curvas das laterais dos seus lábios, que se revelaram num sorriso tímido ao bobo que a encarava. Os olhos negros construíam uma simetria emcantadora com as sobrancelhas perfeitas e os cílios compridos, como se eu conseguisse sentir que, ao me olhar com aquela expressão firme, ela me despia a pele, os músculos e os ossos, enxergando diretamente o âmago da alma. Por fim, o sorriso foi se desfazendo e seus lábios grossos e fartos foram se descolando, enviando a mim a mensagem de que já era hora de despertar do transe e agir de maneira não assustadora. Pelo menos tentar, é claro.
Antes que ela dissesse algo, me propus a segurar a caixa que ela levava, tentando demonstrar certo cavalheirismo - e empatia, afinal quando li "livros" escrito em sua lateral, imaginei que estivesse pesado. Após apanhar a caixa de seus braços, me apresentei e tentei parecer simpático. Ela ofereceu um sorriso mais amigo dessa vez, se apresentando também.
Seu nome era Lorann Green e ela acabara de se mudar para o apartamento do Sr. Mumford, que estava vago há algumas semanas. Ainda havia algumas caixas para serem levadas pra dentro e me ofereci para terminar o trabalho. Quando depositei a última no chão, me ofereci para pagá-la um café. Imaginei eu que o dia dela seria longo e, levando em conta o quão cedo estava, ela precisava de alguma fonte de energia e eu precisava ainda expulsar o que restava do efeito do álcool e permanecer em pé por mais uma ou duas horas. Ela aceitou e, enquanto entrou para apanhar uma blusa, acabei abusando novamente da ironia dentro da minha cabeça: eu que me sentia vivendo num inferno constantemente, dessa vez seria vizinho de um anjo.

Duas quadras distante do nosso prédio, havia uma lanchonete que era um dos meus lugares preferidos no mundo todo. Desde os primeiros dias em que me mudei para o Premier, já me sentia um freguês querido dali. Não era muito grande, mas o Sr. Serj, com o atendimento e o carinho com que me recebia ali, fazia do lugar um dos mais aconchegantes que eu conhecia. Como se isso não bastasse, eles ainda tinham o melhor café das redondezas e só ali eu conseguia comer um Cheese Steak tão bom quanto os que eu comia em casa, na Filadélfia.
Depois de caminharmos até lá e escolhermos uma mesa, puxei a cadeira para que Lorann se sentasse e, tentando ser o mais afável que eu pude, pedi que ela me contasse sobre sua vida.
Talvez por ser psicólogo e já ter uma sensibilidade maior para conversar cara a cara com as pessoas, mesmo um "desconhecido" conseguia se sentir a vontade para conversar comigo como se fossemos próximos e nos conhecêssemos há tempos. Com ela não foi diferente. Após alguns minutos de conversa, onde ela parecia um pouco tímida e se escondendo por trás de alguns clichês, percebi nela uma vontade de desabafar algo. Ela havia ficado quatro meses em Lyon fazendo algumas especializações, aproveitando para visitar a terra natal de seus avós. Quando retornou para Nova York, acabou flagrando o seu noivo com outra no seu apartamento e acabou dando um fim em tudo, decidindo-se mudar dali, vindo parar até a porta ao lado da minha. Ela não foi abundante nos detalhes e eu, como bom recém-conhecido, não interpelei por mais informações.
Conversamos sobre nossos fracassos amorosos, sobre nossas bandas preferidas em comum, nosso amor por gatos e por café e a necessidade que ambos tínhamos de fugir da depressão em caminhos etílicos.
Comecei a minha história com ela num elevador me encarando, literalmente, num espelho e, ali naquela mesa, me senti olhando para um espelho também. Éramos tão iguais e ao mesmo tempo opostos. Ela era um anjo e eu um diabo, ambos vagando a mesma terra, o mesmo inferno, o mesmo céu.

Cya.

sábado, 12 de maio de 2018

Amor próprio?

"Entre as diversas formas de mendicância, a mais humilhante é a do amor implorado." - Carlos Drummond de Andrade.

Cya.

sexta-feira, 4 de maio de 2018

Isso.

"Não ouse roubar a minha solidão, se não fores capaz de me fazer real companhia." - Nietzsche.

Cya.

terça-feira, 1 de maio de 2018

Pardon me, tho.

Sempre tive minhas manias com ciclos. Premissas, começos, durações, desfechos, fins. Coincidentemente, é dia 01, um início. Mera sincronicidade. O blog sempre foi um corpo que tatuei as formas e as idéias que minhas divagações permitiam. Sempre concordei que destruições são formas de criação. Também são, sim. Mas renovações também, e nem sempre é necessário desconstruir algo para de nascer um novo. O blog não foi desfeito, só renovado.

Cya, e partamos todos pro começo de um novo fim.

Pauldrons.

“Por vezes sentimos que aquilo que fazemos não é senão uma gota de água no mar. Mas o mar seria menor se lhe faltasse uma gota.” - Madre Teresa de Calcutá.

Cya.

sábado, 14 de abril de 2018

Dois corpos, um só.

DISCLAIMER: O texto abaixo não é recomendado para pessoas menores de idade, tímidas, cheias de pudores e tabus em relação a sexo, ou todos aqueles que irão me olhar com vergonha e/ou reprovação.

Gail sairia mais cedo da redação naquela sexta e iria direto pra casa esperar por mim, tinha prometido a ela preparar um jantar especial pra nós dois. Abri a porta, soltei as chaves na mesa e dei meu tradicional cumprimento à Cleo - um "cheirinho" e um ligeiro abraço - que se esticava, indiferente e graciosa à minha chegada, ao mesmo tempo, na poltrona bege da sala. Caminhei até o quarto e encontrei roupas femininas jogadas em cima da minha cama e um sutiã enroscado sutilmente na porta do banheiro entreaberta. A pista era clara, mas ela ainda não tinha notado minha presença. Entrei vagarosamente e fiquei observando-a através do box de vidro transparente, ofuscando parcialmente minha visão pelo embaçamento causado pelo vapor.
Seu corpo era maravilhoso, parecia esculpido em cera, talvez em um gesso fino. Artes esculturais estavam fora das minhas habilidades pra definir o que aquilo pareceria. As moças que faziam tutoriais de "corpos para o verão" para a internet chorariam copiosamente se por acaso descobrissem meus pensamentos em relação ao corpo delas comparados ao de Gail.
Os pés, as panturrilhas, as coxas, o bumbum, o desenho das suas costas, seus seios fartos, seu pescoço sedutor e sua barriga "fora dos padrões 'chapados' das revistas" eram um completo deleite aos meus pensamentos mais luxuriosos e indecentes. Suas curvas eram acentuadas e agudas na medida correta, a sua pele macia era um convite ao meu corpo e à minha boca - principalmente. Eu adorava passar meu tempo beijando seu corpo e brincando com o contato que minha língua tinha com sua pele e a reação que a minha própria namorada tinha: os arrepios, as risadas tímidas, e até os bicos enquanto eu elogiava até suas estrias e celulites. Em minha defesa e de todos os homens sensatos, elas são a parte mais perfeita das imperfeições de uma mulher - "imperfeições", que fique claro, pelo ponto de vista delas. Eu achava maravilhoso, afinal era aquilo que diferenciava ela dum manequim, por exemplo. Eram as marcas que comprovavam que ela era uma mulher de verdade, perfeita para um tolo apaixonado que abraçava a retórica do que era estar apaixonado por alguém.
Lancei uma leve pigarreada sarcástica para anunciar minha presença e me armei de maneira sutil com as covinhas que me foram presenteadas pelos genes positivos de meus pais e que ela tanto gostava. Ela se inclinou contra o box e, de uma maneira angelicalmente demoníaca apenas assentiu com o dedo indicador, me chamando para se juntar à ela. Nem de longe eu era uma pessoa tímida, muito menos seria na frente da pessoa com que há anos dividia a vida comigo, mas ao vê-la assistindo meu ato de remover as roupas me deixou, de certa forma, sem graça. Acabei por perceber que quanto mais eu enrolava, mas ela se divertia. Ela se fixou em cada botão aberto, no nó afrouxado da gravata e na braguilha da minha calça abrindo.
Abri a porta do box de maneira escancarada e observei seu corpo todo ensaboado, com o branco da espuma flertando com a palidez do seu corpo. Ela virara de costas, de propósito, num misto de provocação e inocência, indicando pra que eu a esfregasse as costas. Massageei-a com a esponja de maneira delicada, aproveitando aquele momento tanto quanto ela. Passei uma das mãos pela sua cintura e a puxei para baixo da água, para mais perto de mim. Senti um suspiro e, para acompanhar sua reação, beijei-a no pescoço. Senti sua mão direita procurando a minha que se depositava na sua barriga. Num ato quase que de reflexo, abracei-a, enquanto respondendo à minha ação, ela agarrou minha mão e a trouxe mais perto da virilha, dando uma indicação mais do que clara do que ela queria. Abracei-a mais forte e desci minha mão ao encontro do que ela queria, sentindo instantaneamente um gemido enquanto comecei a tocá-la. A água quente do chuveiro parecia fria em relação aos nossos corpos naquele momento. Sua mão esquerda, ainda livre, deslizou com certa habilidade, para quem estava de costas, pelo meu abdômen até encontrar tarefa parecida com a que eu estava executando. A minha, no entanto, percorreu o sentido contrário agarrando com firmeza e carinho seu seio. Naquele momento, o tesão já se apossava dos nossos corpos. O desejo que eu tinha por aquela mulher era algo que dificilmente os pesquisadores da área conseguiriam encontrar em outro casal e, aparentemente, abusando da arrogância, era recíproco.
Ela se virou com um movimento rápido e laçou seus braços pelo meu pescoço, enquanto a agarrei pela cintura e apertei contra mim. Ela me beijou como poucas vezes havia feito, como se sua vontade fosse sugar minha essência para dentro de si, apaixonadamente. Retribuí, apertando mais ainda seu corpo contra o meu. Abri a porta do box e a conduzi pelo braço. Ainda molhados e entorpecidos pelo calor do momento, joguei-a na cama assim que saímos do banheiro. Seu corpo esticado na cama, convidativo e oferecido ao meu prazer, faziam meus instintos borbulharem como a lava de um vulcão prestes a entrar em erupção. Meu auto-controle, por sorte, ainda estava sob minha lucidez. Comecei beijando seus pés e subi, devagar, pelas suas pernas, sua virilha, sua barriga, por entre os seios até encontrar seu pescoço. Cada toque dos meus lábios contra sua pele soava como um choque, que era não só ouvido mas também sentido, tanto pelo corpo dela quanto o meu. Mas nesse momento, seu corpo nada mais era do que uma presa fácil para a minha posição predatória, por cima, enquanto nossos olhos formavam uma linha fulminante que colocaria fogo em qualquer superfície inflamável que estivesse por perto caso se perdessem no encontro. Passei a beijá-la e desci, de novo, pelo seu corpo, agora encontrando cada detalhe, tantos dos seus seios quanto onde eu sabia que iria fazê-la perder a cabeça. Enquanto eu a chupava, conseguia observar seus dedos lutando contra os lençóis e sua boca se contorcer ao mesmo ritmo que seus olhos se fechavam e sua respiração ficava cada vez mais irregular, entregando sem pudor que se deliciava com os movimentos que minha língua fazia. Eu ainda não consigo conceber se era a paixão ou o tesão que faziam com que eu gostasse até do sabor dela. Eu sentira suas pernas tremerem e seus gemidos cada vez mais altos a denunciavam, ela havia montado os cavalos brancos.
Seus olhos tomaram vida de novo, como se sua alma tivesse abandonado e voltado ao corpo naqueles últimos segundos, até que ela resolveu avançar em minha direção como um felino, me jogando de costas contra a cama e trocando nossas posições. Suas mãos sobre meu peito e sua boca delineadamente sensual formavam uma imagem perfeita, sedutora e atiçadora, mas que eu poderia encarar e resistir, ainda. Depois de colar seu rosto contra o meu, seus lábios procuraram minha orelha e desceram pelo meu pescoço, passeando pelo meu peito, minha barriga, até encontrar o que ela buscava. Sua boca me abocanhara como se fosse algo suculento, fazendo com que meu cérebro produzisse certos espasmos que eu não sabia decifrar, fazendo com que suas unhas em minhas pernas e os barulhos de saliva e sucção fossem as poucas coisas que mantinham minha lucidez, ainda que por um fio, longe da loucura. Depois de alguns minutos tão longos quanto horas, seu corpo escalou o meu, seus braços agarraram minha nuca e meu braço. Dali pra frente, nossos corpos se tornaram um só e o eu-lírico perdeu por completo sua lucidez pra conseguir descrever o que ali se sucederia a seguir. O que posso garantir é que havia suor, suspiros, gemidos, arranhões... Nossa sintonia na cama era absurda, irreal.

Ela dormiu no calor dos meus braços, ainda marcados pelo amor que acabáramos de fazer. Sua cabeça contra meu peito, nossos corpos ainda nus, enlaçados. Eu fazia carinho em seus cabelos e a assistia dormir, como um anjo que recentemente havia abandonado os pecados da carne mortal e voltara ao seu estado celestial. Eu poderia observá-la dormindo por horas, dias, séculos, se me fosse possível. Nem os maiores poetas descreveriam o amor que eu sentia por aquela moça com palavras, termos e expressões mais apropriados do que os que eu tinha em mente. Eles não se formavam em simples conjugações e junções de letras, não. Eu sentia, aquilo era o maior amor do mundo, sem dúvida alguma.

Cya.

Socos. Minha costela.

Gail era apaixonada por cachorros. Quando passávamos o final de semana em casa, costumávamos acordar cedo no domingo pra ir até o Central Park em minha moto para aproveitar a manhã, geralmente não fazendo nada. Eu não fazia nada, para falar a verdade. Minha única missão era ser um observador poetizando sobre a beleza dela enquanto ela caminhava na grama, enquanto o sol refletia o brilho da sua pele palidamente linda, enquanto ela sorria assistindo as crianças brincarem com seus cachorros pelo parque, enquanto ela simplesmente era ela, sentada, observando o céu, "sendo linda", como eu costumava dizer. Enquanto ela olhava pra mim e sorria, como se aquilo fosse uma obra de um deus que eu refutava a existência, mas que poderia ser o único capaz de produzir um sorriso hipnotizante e maravilhoso, algo que parecia ter sido feito especialmente para mim, algo que eu admirava com estranheza de tanta perfeição que se revelava, de tanta harmonia e paz que meu coração se enchia ao observar cada curva dos seus lábios se abrindo e revelando seus dentes cor-de-marfim.

Hoje acordei cedo, troquei de roupa, tomei meu religioso café, desci até o estacionamento e liguei a moto. Eu partiria para o parque pela primeira vez sem ela. Eu não tinha mais que firmar os pés para ela subir na garupa. Eu não sentia mais seus dedos enfiados nos bolsos da minha jaqueta buscando abrigo do frio. Eu não sentia mais seus braços enlaçando a minha barriga, nem sua respiração quente beijando minha nuca. Eu não sentia mais nada, só um vazio.
Eu cheguei até o Central Park e observei as crianças, os casais, os cachorros, os freesbies voando, as bicicletas, as cestas de piquenique, eu via vida em tudo que vinha de fora. Eu não via nada que se conectasse comigo. Eu não via nada ao meu lado. Eu não via nada dentro de mim, só sentia. Sentia como se o som dos pássaros, das crianças rindo e das pessoas conversando fossem zumbidos irritantes, como se a felicidade alheia dessas pessoas fosse uma ofensa à minha amargura sórdida e podre, quase que pestilenta ao meu coração e ao sentido da minha existência. Como se tudo tivesse perdido o sentido por fazer tanta falta aquele pedaço de mim. Como se eu estivesse nu, não de roupas, mas de sentido para estar ali.
Eu insistia em frequentar os lugares que eu costumava ir com ela como um ritual pra tentar achar que minha companhia era o suficiente, em pensar que eu podia existir sem ela. Não, não existia mais Duncan sem Gail. Eu abri meu peito, arranquei meu coração violentamente e depositei no peito dela. Eu achava que detinha seu coração e a chave do meu próprio peito. Nenhum coração entra mais nesse peito que arde, nesse peito morto-vivo. Morto por não sentir, vivo por doer. Esse dilema me era estranho enquanto doía, me era familiar enquanto vazio. Mas acima de tudo, inóspito. E o meu coração? Provavelmente estaria jogado em alguma viela suja perto do Brooklyn, longe demais pra ser achado, sujo demais pra ser reconhecido.

São quase seis meses sem ela. Me machuca tanto quanto no primeiro dia, me sangra ao ver que ela conseguia fugir disso e eu não, que pra ela há vida, e pra mim solidão. Que eu estava preso a mim mesmo e à lembrança dela, e ao pedaço que faltava em mim. A solidão que por tanto tempo foi minha opção, hoje em dia era minha sina, minha alucinadora prisão. Ela amava cachorros, mas o calor que eu tinha era de saber que a Cleo estaria em minha cama e ronronaria ao sentir meu corpo inerte se jogando contra o colchão e encontraria aconchego, assim que abandonasse o cobertor e caminhasse em direção a mim. Ela já estava enjoada e enojada de me ver chorar, provavelmente. Já eu, não.

Cya.

quarta-feira, 11 de abril de 2018

Domingo.

"E eu deixei todos os meus cigarros na tua casa
O teu descaso me deixou tão só
Talvez eu ache algo mais forte,
que faça eu me sentir melhor." - Esteban.

Cya.

segunda-feira, 9 de abril de 2018

Só do que eu sei falar.

Amor próprio é só uma desculpa
uma falácia decorada
Até que se ache um peito
pro teu coração fazer de morada.

É sentimento que vive gritando
mas que de fato nasce mudo
Uma simples troca onde
do pouco que tenhas, darás tudo.

A cada maltrato que recebe
fica este arredio
Porque mal sabes, pobre coração
que continuará a cair nessa garra vil

E enquanto permanecer imune
que sofras tu pela ardilosa opção
Porque tu ainda serás tolo
sábio ou insensível não passam de uma efêmera condição.

Cya.

sábado, 7 de abril de 2018

Fogo.

Logo após ter me formado na Brooklyn College em Psicologia, eu consegui uma vaga, graças às recomendações de alguns professores, no New York Presbyterian Hospital. Eu alternava meus turnos entre as unidades do Hudson Valley e do Queens, atuando na área de pesquisa e assistencialismo, principalmente com os pacientes dos setores de oncologia. Eu acabei escolhendo esse campo de pesquisa por um certa ironia: no auge das minhas crises de pânico, um dos meus maiores medos era a morte. Com a depressão, a morte virou uma das minhas maiores obsessões, como se eu ansiasse pela sua chegada e lutasse para atrasá-la ao mesmo tempo, formando um dilema doentio dentro de mim mesmo. E quem, leigo ou letrado, não associa essa maldita condição como se fosse uma das muitas faces da morte?
Dos meus amigos, sempre ouvi que eu tinha vocação para a psicologia, essa minha empatia e minha habilidade de persuadir as pessoas com sutileza e leveza ajudaram muito quando conciliei com as técnicas apropriadas, e o que me motivava mais era me sentir útil e capaz de ajudar pessoas que passavam por problemas parecidos ou tão piores que os meus - no caso dos pacientes de câncer e seus familiares. Não há nada pior que ser seu próprio inimigo, psicologicamente ou fisicamente falando.
Antes do que estou prestes a afirmar, preciso esclarecer que meu corpo é uma espécie de híbrido entre um bordel do século XIX e uma sala cheia de Juan Valdez: a metade que não era feita de bourbon, era feita de café. A referência não é boa, mas é apropriada, principalmente porque eu tinha um costume incomum de consumir whisky à luz do dia e café durante a noite. Uma das poucas vezes - pra não dizer a única - que tive uma leve consideração em levar em conta existência de deus foi que, tanto na unidade do Hudson quanto na do Queens, eu tinha um Starbucks praticamente ao alcance dos meus braços - ou das minhas pernas. Não que eu não gostasse do café que nós bebíamos no hospital, mas era no mínimo interessante ter uma fonte pra alimentar minha dependência química de cafeína.

Numa manhã quente atípica de abril, concluí meu ritual de parar a moto no estacionamento do campus um pouco mais cedo e caminhar até o Starbucks que ficava há duas quadras dali. Voltei vagarosamente apreciando a bebida e entrei meio desatento, divagando alguma bobagem. Ao ser alvejado pelos olhares de reprovação assim que bati meu cartão, me auto-fuzilei ao me lembrar da festa de despedida que faríamos pela manhã - que aliás, já estava em curso. Hoje era o último dia que Caroline Wazowski estava com a gente, uma das responsáveis pelo setor de pesquisa da minha ala. Não éramos os melhores amigos, mas ela era uma profissional competentíssima da qual nós sentiríamos falta, ela tinha conquistado um subsídio pra liderar uma equipe por alguns meses na Ucrânia, com um Dream Team de cientistas na área de genética, motivo esse pelo qual nos deixaria. Ela era querida por todos ali pela simpatia e a risada gostosa, mas nossa relação se tornara um pouco restrita ao profissional depois que eu acabei sabotando sem querer nosso curto relacionamento. Eu nem chamaria de relacionamento. Os óculos grandes, o cabelo vermelho - sim, ver me lho - o sorriso simpático e seu jeito tradicionalmente atraente eram um cartão de visitas pra qualquer pessoa que se sentisse bem ao lado de alguém que era puro carisma. Nós saímos algumas vezes para beber, pegar um cinema, ela acabou até indo em um show meu no Velvet's. Confesso que ela gostava mais de rock do que eu, talvez por isso eu tenha pedido desculpas tantas vezes por tê-la feito me aguentar cantando e arranhar a guitarra. No final da noite, fiquei bêbado e de certa forma "perdi" meus amigos pra ela. Mea culpa, eu era um pé no saco e ela era bem mais bonita e simpática. Aliás, eu ser um pé no saco foi o que fez com que eu a perdesse. Ora eu era uma compensação absurdamente exagerada de bom humor pra esconder a bagunça na que eu tinha na cabeça; ora eu era só um pé no saco. Ponto.
Caminhei por entre meus colegas, já rindo da minha cara de culpa, e a abracei. Ela tinha um sorriso nada surpreso revelando uma covinha tímida.
"Eu não tinha expectativas em você, pode ficar tranquilo."
Ainda bem que não. E ainda bem que a Srª. Morgan tinha ficado encarregada de trazer as delicatessen, diga-se de passagem. Alguém tinha que ter uma boa memória naquele departamento, e eu liderava o ranking dos piores.
Fiquei no meu canto degustando um bolinho, terminando meu café e observando a sala. As risadas, o bom humor, os jalecos brancos se misturando aos azuis, algo simbólico, metafórico. Todas aquelas pessoas amavam a vida, e amavam mais ainda a vida do próximo, abandonando logo cedo seus lares, certas vezes até tarde da noite, pra mostrar pra essas que elas tinham valor. Me sentia orgulhoso de que a hipocrisia não fizesse parte daquele grupo, esse amor pelas vidas alheias estendia-se aos colegas, não só aos pacientes. Assisti as pessoas abraçando-a, desejando a melhor sorte do mundo, nada que ela não merecesse, achava até que fosse pouco. Eu sentiria falta da risada dela.

Cya.

sexta-feira, 6 de abril de 2018

Traduzir-se.

"Uma parte de mim
é todo mundo:
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo.

Uma parte de mim
é multidão:
outra parte estranheza
e solidão.

Uma parte de mim
pesa, pondera:
outra parte
delira.

Uma parte de mim
almoça e janta:
outra parte
se espanta.

Uma parte de mim
é permanente:
outra parte
se sabe de repente.

Uma parte de mim
é só vertigem:
outra parte,
linguagem.

Traduzir uma parte
na outra parte
— que é uma questão
de vida ou morte —
será arte?" - Ferreira Gullar.

Cya.

sábado, 31 de março de 2018

"Crônicas da Depressão I", por Márcio Scheel.

"As pessoas que me conhecem sabem que me recuso a expor publicamente meus afetos mais reais. Sabem que os dissimulo, quase sempre, em ironia, uma forma de não levar o mundo a sério, e autoironia, um modo de não se levar a sério. De todos, talvez, o mais importante. Mas começo a compreender que as experiências que vivemos são essenciais, nao só para nós mesmos, mas também para o outro.

Faz algum tempo que venho atravessando esse território desolado da depressão. Faz algum tempo que me apavora - nem sempre, mas às vezes de forma dolorosa e incompreensível quase - a ideia de que não tenho mais qualquer controle sobre minha vida e minhas emoções. Há dias muito bons, semanas inteiras até, mas há outros que parecem uma estação no inferno, para lembrar Rimbaud. Nesses, a gente imagina, quando consegue, como é possível resistir tanto ao sentimento de absoluto abandono que nos cerca.

É difícil, nesses dias, não se dedicar a certos vícios que nos consolam ou nos iludem, como o álcool, por exemplo. Sempre gostei de beber, de ficar bêbado, mas raras vezes usei o álcool como uma saída fácil para os sentimentos mais desencontrados. Hoje foi um desses dias muito ruins; um desses dias em que cometemos o erro de procurar as saídas mais fáceis.

Não é fácil reconhecer que não se está sozinho, que a vida pode nos surpreender de vez quando, de que há sempre alguém do outro lado da linha quando mais precisamos, principalmente nessas horas em que tudo parece um edifício em chamas. E a gente lá dentro, tentando sair a todo custo, como nesses pesadelos infelizes, com a diferença de que não acordamos a tempo.

A depressão é insidiosa porque nunca podemos prever quando, de repente, ela vai fazer com que a gente beije a lona. Pode ser no meio de um trabalho, de uma conversa, caminhando sozinho, entre amigos e pessoas amáveis, nas quais nos reconhecemos e pelas quais nos sentimos acolhidos. Não é nossa culpa, nem das pessoas. Não há nada que possamos fazer sobre isso. Nao há responsabilidade, porque não é uma escolha. Só somos responsáveis pelas decisões que que tomamos conscientemente.

Noto que são raras as pessoas que se expõem, que falam abertamente sobre isso. Penso que se trata de um tabu. A sociedade, em geral, imagina que estar deprimido é simplesmente um sinal de fraqueza, uma debilidade de caráter, um vacilo do espírito. Isso porque fomos forjados sob a ideia de que o sucesso, a realização pessoal, a felicidade ou o amor dependem unicamente de nosso empenho, de nossa vontade, de nossa dedicação.

Não é verdade, porque nem sempre nossas melhores escolhas levam às melhores realizações. Nem sempre nos dedicamos a algo e nos encontramos de verdade no que fazemos. Nem sempre podemos estar felizes, porque a felicidade é uma abstração, um estado de espírito, nunca uma condição reconhecível. A felicidade é uma invenção de um mundo que nos consola com a ideia de que se fizermos hoje nossa cota de sacrifícios e de renúncias, amanhã vamos descobrir maravilhados a recompensa esperada. Nada pode ser mais falso do que isso. Nem sempre o amor depende de nossa vontade, de nossos afetos, de nossos desejos. Nunca, quem sabe. O amor é um encontro, não uma disposição, uma partilha consentida, não uma dádiva que entregamos ao outro.

É difícil entender tudo isso. E é muito difícil para mim, que sempre fui muito racional e autocentrado, que sempre imaginei que a razão é a justificação da vida e de quem somos, de que tudo pode ser explicado, compreendido, domesticado pelas ideias. Estive sempre enganado, em alguma medida ao menos. Nem tudo pode ser interpretado, definido, explicado. Algumas coisas só podem ser sentidas, vividas, experimentadas. E doer faz parte de quem somos, assim como amar ou ser feliz, doer não é ridículo, não é patético, não é irracional. É só parte de quem nós somos. A parte mais humana, talvez, de quem nós somos.

Por isso o que mais precisamos, num mundo que parece cada vez mais insensível e egoísta, é aprender a pedir ajudar. É contar com quem confiamos ou amamos, mesmo que não saibamos as razões pelas quais confiamos ou amamos. Não gosto, como disse, de expor publicamente minha vida, não gosto de dizer como me sinto, não gosto de imaginar que isso dê às pessoas uma ascendência sobre mim que me apavora, mas resolvi que, talvez, esse seja um lugar para que a partilha da minha vivência alcance outras pessoas igualmente a revelia dos próprios afetos.

Essas crônicas não são sobre a depressão, sobre o tratamento, sobre como eu me sinto, mas sobre as pessoas que estão perto de mim, que me estendem a mão, que me ensinam que o amor é o sentimento mais livre e gratuito que podemos devotar a alguém. Por isso, essa crônica, hoje, é dedicada a uma das pessoas mais bonitas que já conheci na vida, alguém cuja espiritualidade e desprendimento ensinam o altruísmo e a delicadeza, a dedicação ao outro e o amor desinteressado.

Hoje, um desses dias muito ruins, em que não sabia bem o que fazer ou a quem recorrer, escrevi para ela, que deixou tudo o que estava fazendo, a família, o marido, os amigos, para estar comigo durante três horas. Não para me dizer o que fazer ou como me sentir, não para me aconselhar ou para sugerir saídas mágicas e consolos fáceis, mas para me mostrar, com a simples presença dela, que tem sempre alguém do outro lado da linha, de que estar próximo é aprender a dividir igualmente o que em nós sofre e ama.

Essas crônicas não são sobre a depressão, são sobre os amigos essenciais que estão por perto e que nos querem bem, são sobre a gratuidade dos afetos que as pessoas nos dedicam sem esperar qualquer coisa em troca, são sobre essas figuras iluminadas, que nos apontam para onde ir com a delicadeza e o desprendimento dos que se devotam à amizade, ao amor, à verdadeira fraternidade. Essas crônicas são sobre os bons amigos que fiz e nos quais me reconheço cada vez mais.

Eu não tenho nenhuma foto com ela, curiosamente, apesar de ser uma das melhores amigas que já fiz na vida. Hoje, quem esteve por perto foi a Jessica Roberti, que veio até mim e que dedicou não a sua amizade, mas a sua companhia desarmada e sincera.

Essas crônicas são uma homenagem aos amigos. Os que sempre estiveram por perto, os que reencontrei, os que amavelmente descobri quando as coisas, eventualmente, pareciam perdidas.

Obrigado, minha amiga." - Márcio Scheel, no seu perfil pessoal do Facebook.

Eu não salvei o texto. Ele me salvou.
Cya.

OCD.

"The first time I saw her...
Everything in my head went quiet.
All the tics, all the constantly refreshing images just disappeared.
When you have Obsessive Compulsive Disorder, you don’t really get quiet moments.
Even in bed, I’m thinking:
Did I lock the doors? Yes.
Did I wash my hands? Yes.
Did I lock the doors? Yes.
Did I wash my hands? Yes.
But when I saw her, the only thing I could think about was the hairpin curve of her lips..
Or the eyelash on her cheek—
the eyelash on her cheek—
the eyelash on her cheek.
I knew I had to talk to her.
I asked her out six times in thirty seconds.
She said yes after the third one, but none of them felt right, so I had to keep going.
On our first date, I spent more time organizing my meal by color than I did eating it, or fucking talking to her...
But she loved it.
She loved that I had to kiss her goodbye sixteen times or twenty-four times if it was Wednesday.
She loved that it took me forever to walk home because there are lots of cracks on our sidewalk.
When we moved in together, she said she felt safe, like no one would ever rob us because I definitely locked the door eighteen times.
I’d always watch her mouth when she talked—
when she talked—
when she talked—
when she talked
when she talked;
when she said she loved me, her mouth would curl up at the edges.
At night, she’d lay in bed and watch me turn all the lights off.. And on, and off, and on, and off, and on, and off, and on, and off, and on, and off, and on, and off, and on, and off, and on, and off, and on, and off, and on, and off, and on, and off.
She’d close her eyes and imagine that the days and nights were passing in front of her.
Some mornings I’d start kissing her goodbye but she’d just leave cause I was
just making her late for work...
When I stopped in front of a crack in the sidewalk, she just kept walking...
When she said she loved me her mouth was a straight line.
She told me that I was taking up too much of her time.
Last week she started sleeping at her mother’s place.
She told me that she shouldn’t have let me get so attached to her; that this whole thing was a mistake, but...
How can it be a mistake that I don’t have to wash my hands after I touched her?
Love is not a mistake, and it’s killing me that she can run away from this and I just can’t.
I can’t – I can’t go out and find someone new because I always think of her.
Usually, when I obsess over things, I see germs sneaking into my skin.
I see myself crushed by an endless succession of cars...
And she was the first beautiful thing I ever got stuck on.
I want to wake up every morning thinking about the way she holds her steering wheel..
How she turns shower knobs like she's opening a safe.
How she blows out candles—
blows out candles—
blows out candles—
blows out candles—
blows out candles—
blows out…
Now, I just think about who else is kissing her.
I can’t breathe because he only kisses her once — he doesn’t care if it’s perfect!
I want her back so bad...
I leave the door unlocked.
I leave the lights on." - Neil Hilborn.

Isso é uma das coisas mais lindas e mais tristes que eu já vi na vida. Cya.

sexta-feira, 30 de março de 2018

O teu riso.

"Tira-me o pão, se quiseres,
tira-me o ar, mas
não me tires o teu riso.

Não me tires a rosa,
a flor de espiga que desfias,
a água que de súbito
jorra na tua alegria,
a repentina onda
de prata que em ti nasce.

A minha luta é dura e regresso
por vezes com os olhos
cansados de terem visto
a terra que não muda,
mas quando o teu riso entra
sobe ao céu à minha procura
e abre-me todas
as portas da vida.

Meu amor, na hora
mais obscura desfia
o teu riso, e se de súbito
vires que o meu sangue mancha
as pedras da rua,
ri, porque o teu riso será para as minhas mãos
como uma espada fresca.

Perto do mar no outono,
o teu riso deve erguer
a sua cascata de espuma,
e na primavera, amor,
quero o teu riso como
a flor que eu esperava,
a flor azul, a rosa
da minha pátria sonora.

Ri-te da noite,
do dia, da lua,
ri-te das ruas
curvas da ilha,
ri-te deste rapaz
desajeitado que te ama,
mas quando abro
os olhos e os fecho,
quando os meus passos se forem,
quando os meus passos voltarem,
nega-me o pão, o ar,
a luz, a primavera,
mas o teu riso nunca
porque sem ele morreria. " - Pablo Neruda.

Cya.

segunda-feira, 26 de março de 2018

Over and about rock'n roll!

O rock sempre foi sobre resistir.
Sempre foi sobre resiliência.
É sobre quebrar tudo, sobre perder a paciência.
É sobre não se entregar, sobre ir contra o sistema.
Quebrar as correntes e arrebentar a algema.
Não é sobre se render ou fazer parte de um dilema.
É ser mensageiro do caos, é ser o próprio problema.
Há os que digam que são do rock mas nunca foram e nunca serão, porque tudo aquilo que vai contra a liberdade não faz parte da nossa religião.
Essa é o anti-cristo, o ateu e o próprio o diabo, "WE'RE NOT GONNA TAKE IT", esse é o nosso único recado.
É andar fora da linha e ser sempre do contra, seja com o cabelo comprido ou o dedo do meio, do inimigo somos a afronta.
É sobre usar preto e ser cheio de cor, é sobre falar de ser você mesmo e sobre também falar de amor.
É sobre ser bem, é sobre ser mau.
É um estilo de vida, é preferir morrer por uma causa do que viver de forma banal.
É ser pedra e ser rocha, é ser a bomba, o pavio e a própria tocha.
É sobre levantar a bandeira e ouvir que isso é errado, é sobre ser o milagre e ao mesmo tempo o próprio pecado.
É sobre não aceitar o que nos é imposto, é sobre não aceitar pelo fim dos dias numa eterna espera, é saber ter atitude, sobreviver ao medo e avançar feito uma fera.
É o solo de guitarra que causa arrepio, é ter no peito a fagulha que transforma em um só todos os cem mil.
Nós somos do sonho o pesadelo e da mão que domina nós somos o algoz e o grito de independência.
O rock sempre foi sobre resistir.
Sempre foi sobre resiliência.

Cya.

sábado, 24 de março de 2018

Desperdício.

"Nós arrancamos tanto de nós mesmo para nos curarmos mais depressa das coisas que ficamos esgotados perto dos 30 anos. E temos menos a oferecer toda vez que começamos algo com alguém novo. Mas se obrigar a ser insensível, assim como sentir nada... Que desperdício!" - Me chame pelo seu nome.

Cya.

segunda-feira, 19 de março de 2018

O que foi prometido, ninguém prometeu.

Duncan acordou no meio da noite, como já era costume nos últimos meses. Marcas de suor pela cama, coração palpitando, respiração ofegante. Os sonhos com ela haviam retornado. Ela era uma lembrança que o assombrava, como um fantasma numa casa velha, que ainda se amarrava às antigas mágoas e memórias e recusava-se a deixar o lugar. Esticou-se para acender o abajur ao lado da cama, sentou-se para tentar recobrar um pouco a lucidez e acabou acendendo a tela do celular. Alguns alertas das redes sociais, sempre ativas. O relógio registrava 04:08 da manhã. Ao constatar que não conseguiria mais voltar para cama e dormir até ter que levantar para ir ao trabalho, partiu para a cozinha em busca do revigorante café, na confiança de que o mesmo conseguiria acordá-lo, poupando o despertador de fazer o trabalho sujo.

(...)

Aproximou-se da porta de vidro que separava o quarto da sacada e observou uma Nova Iorque mais acordada no que nunca, e ele se via diante de um cotidiano semelhante. O cansaço das horas acordado disputava espaço com o tormento das horas de seu sono atormentado. Ao buscar a maçaneta e trazê-la próxima de si, o vento gelado penetrou violentamente pela fresta, embora esse fora praticamente ignorado pelo rapaz que se concentrava no horizonte e focava no seu café. Sentou-se na cadeira e ergueu os pés em direção à grade, suspirando fundo e tomando mais um gole da bebida quente. Enquanto observava a escuridão da noite contrastando com as luzes dos prédios, refletiu sobre a conversa que tivera com Stephanie mais cedo. Embora as brigas fossem constantes quando estavam juntos, ela ainda fazia o típico papel de irmã mais velha que se preocupava com o bem-estar do caçula e o protegia mais do que uma coruja fazia com o filhote, assim como era quando crianças. Mesmo que hoje ele fosse um psicólogo e ela uma médica, o comportamento infantil nesse ponto era inevitável de ser despertado. Ela havia chegado de Washington mais cedo do que o esperado e acabou convidando-o para almoçar naquele dia. Entre os papos triviais ou clássicos, como a saúde de seus pais, a família do irmão e as corriqueiras fofocas profissionais que eles gostavam de trocar, ela acabou por perguntar a mesma coisa que todo mundo insistia em perguntar - e que ele já havia desistido de tentar se esquivar: "Como você está?". Não era uma simples pergunta, como sempre. Era sobre Gail. Depois de um olhar cerrado, ele resolveu se abrir:
 - Sabe, Steph, já faz alguns meses e eu ainda sinto as mesmas coisas. - Disse ele. - Infelizmente, a intensidade das emoções e a frequência com que elas me acertam eu não posso controlar. Mas, por outro lado, ando tendo mais domínio de como reflito sobre elas. Eu, definitivamente, não a quero de volta, mas jamais deixei de amá-la. Isso sempre entra em conflito quando me sensibilizo por alguma lembrança de um filme, uma volta no parque, ou uma camiseta minha que ela gostava de usar pra dormir, enfim. Mas em todo esse tempo, qualquer coisa que eu faria pra ter ela de volta, ela poderia ter feito também. Eu morro de saudades, mas ela talvez não, quem sabe? Acabei concluindo que o dia 27 foi o dia em que ela resolveu ir embora, mas ela já não estava lá havia muito tempo. Tudo o que eu fiz e ela não soube retribuir. Tudo que eu sacrifiquei e ela não soube reconhecer. Toda vez que eu era solidão e não ganhei um abraço, toda vez que odiei e não ouvi ela falar sobre amor, todas as vezes que esqueci como era estar vivo e ela não me lembrou de quem eu era, toda vez que me machuquei e ela não me salvou da dor, toda vez que eu não fiz sentido e ela não se importou em tentar me entender. Eu estava sozinho há muito tempo, eu amei sozinho. E esse meu amor é coisa grande demais pra que eu o sustentasse só por minha conta, era preciso nós dois pra que ele fosse um só. Me crucifiquei por noites e noites achando que ela era o melhor de mim. Acabei por perceber que eu era a melhor parte dela e, que sem mim, ela era só mais uma, como qualquer outra...  - Concluiu.
A caneca já estava vazia e o tempo correu enquanto se distraia com suas divagações. Os primeiros sinais da claridade do dia que se aproximava resolveram aparecer. Levantou-se da cadeira e entrou. Mais um dia foi vivido, menos um pra ser sofrido. Que comece o próximo.

Cya.

terça-feira, 13 de março de 2018

This.

"Então, como psicólogo, acho que você está confundindo o suicídio com a autodestruição, e eles são muito diferentes. Quase nenhum de nós cometeu suicídio, enquanto quase todos nos autodestruímos. De alguma forma. Em alguma parte de nossas vidas. Nós bebemos, tomamos drogas ou desestabilizamos o trabalho feliz... Ou casamento feliz." - Aniquilação.

Cya.

Amor, no more.

"Meu quarto ainda tem seu cheiro de vazio, eu entendo
Esvaziou o coração e, sem ter explicação, me arrancou de dentro." - Poesia Acústica.

Cya.

quinta-feira, 8 de março de 2018

Numerologia do amor.

Começa em mim
como chama, me chama
que se acende e me ascende
Sem consentimento me inflama

Maior que um, inexplicável
que de tudo toma conta
nada mais tem sentido
Lança do peito e se desponta

Não só um, mas dois
um sentimento e quatro braços
Dois corações, duas bocas
e das somas une o corpo como laços

Se dum lado a corda se parte
o que resta pelo chão a se perder
seja a esperança ou a paciência
Dois são o necessário pra que esse um possa ser.

Cya.

domingo, 4 de março de 2018

O veneno acabou.

"Você diz que
É só de amor que eu sei falar
Mal sabes que
Se eu soubesse eu tentaria te ligar
Pra dizer

(...)

Que desde quando você se foi
Me pego pensando em nós dois
E eu não consigo ver onde que eu errei
Se um dia eu fiz você chorar
Nem meses vão te recuperar
Te perdendo eu cresci tanto
Que eu não sei se eu quero mais te encontrar." - Fresno.

Cya.

segunda-feira, 26 de fevereiro de 2018

Minha chance.

E qual é essa verdade?
tu estava certa todo esse tempo
Sempre que uma mão retira
outra se perde mar adentro

Enquanto tive a chance
escolhi por ser justo
A vida me traiu
Agora arco com teu custo

Sempre que tiveres a chance
seja o primeiro a golpear
Ou assista-a caminhar
te abandonando e deixando-o se afogar

Acredito que o custo que cobra-me hoje
Seja um crescimento a criar
Porque seja pelo tempo ou pela vingança
Hei de assistir sua vida acabar.

Cya.

domingo, 25 de fevereiro de 2018

Se me limito, me defino.

"Sou um alcoólatra que virou escritor para poder ficar na cama até o meio-dia.“ - Bukowski.

Cya.

terça-feira, 20 de fevereiro de 2018

É o certo usar um título?

Nascemos sozinhos; morremos sozinhos. Cometi o erro em escrever aqui várias vezes nesses oito anos de existência do blog - e em sei lá quantos de vida - de que fazer o certo é sempre necessário. Fui ainda enfático de que não há recompensa, tampouco reconhecimento, mas ainda assim é necessário. Há a lenda de que o espírito fica em paz, a consciência leve e o coração puro. Bullshit. O certo sempre é o que mais dói, o certo sempre magoa as pessoas (inclusive nós mesmos), o certo é sempre o caminho mais tortuoso, mais difícil. No final das contas, nunca vale à pena. Me indaguei por horas e não consegui chegar num porquê de acreditar nisso, ou pior: de espalhar que fazer o certo é a melhor opção.
Mate a poesia que há dentro de você, destrua qualquer resquício de amor, faça o que é certo pra você e por você. Que morram os outros e que sejam enterrados com seus próprios princípios. Nasça sozinho, morra sozinho, que seja, desde que viva sozinho também. Poupe-se. Lembre-se sempre disso, filho.

Cya.

Deixa, ou me deixa.

No meu peito, escuro
faço da tua luz meu lar
E no teu, vazio
me deixa entrar

Nesses teus olhos, gigantes
minha ressaca, meu mar
Sê meu oceano
me deixa nadar

Perdi meu rumo
sem lugar pra voltar
Me dá teu colo
me deixa morar

Não tenho resposta
não ouso perguntar
Se ainda há ferida
me deixa curar

Não sejas tu meu algoz
só se a dor ceifar
Minha alma pede pela tua
me deixa descansar

Exclamo eu, ao mundo
pra essa tempestade acalmar
Sê minha, só minha
me deixa te amar.

Cya.

segunda-feira, 19 de fevereiro de 2018

Youth.

"Sombras se acomodam no lugar que você deixou
Nossas mentes estão aflitas pelo vazio
Destrua o meio, é um desperdício de tempo
Do início perfeito, para a linha de chegada

E se você ainda está respirando, você é um dos sortudos
Porque a maioria de nós está arfando através de pulmões corrompidos
Incendiando nossos interiores por diversão
Coletando nomes dos amores que deram errado
Os amores que deram errado

Nós somos os imprudentes
Nós somos a juventude selvagem
Perseguindo visões dos nossos futuros
Um dia nós vamos revelar a verdade
Que aquele irá morrer antes de chegar lá

E se você ainda estiver sangrando, você é um dos sortudos
Porque a maioria dos nossos sentimentos, estão mortos e acabados
Nós estamos incendiando nossos interiores por diversão
Coletando imagens da inundação que destruiu nossa casa
Foi uma inundação que destruiu esta casa

E você que causou isso
E você que causou isso
E você que causou isso

Bem, eu perdi tudo, eu sou apenas uma silhueta
Um rosto sem vida que você logo esquecerá
Meus olhos estão marejados pelas palavras que você deixou
Ecoando na minha cabeça, quando você arrebentou meu peito
Ecoando na minha cabeça, quando você arrebentou meu peito

E se você está apaixonado, então você é sortudo
Porque a maioria de nós é amarga em relação a alguém
Incendiando nossos interiores por diversão
Para distrair os nossos corações para não ter saudade deles
Mas eu sentirei falta dele pra sempre

E você que causou isso
E você que causou isso
E você que causou isso." - Daughter.

Cya.

domingo, 18 de fevereiro de 2018

Nossa história, melhor que um best-seller.

Por muitas vezes eu esquecia o quanto Gail era linda. Eu me surpreendia e sentia um choque a cada vez que a encontrava depois de alguns dias sem vê-la, nem minha lembrança ou minha imaginação conseguiam conceber que ela fosse tão encantadora. De longe, sentada sozinha na mesa do shopping, parecia uma flor no deserto de tão contrastante que era o brilho dela em relação aos meros mortais aglomerados a sua volta. Me aproximei e beijei-a no rosto, deixando que me preenchesse o perfume doce.
Uma das sensações mais gostosas da noite era ouvi-la esbravejando comigo porque eu brincava com a comida ou eu não ouvia direito o que ela dizia. Em minha defesa, a maneira com que os lábios dela dançavam e os olhos me fitavam me tiravam do planeta e me impediam de ouvir as palavras, por mais suave que sua voz fosse.
No cinema, eu desaprendia a respirar em cada toque das suas bochechas se encaixando no meu ombro, cada vez que sua mão percorria minha perna buscando encontrar minha mão depositada no joelho, enlaçando nossos dedos. Em cada vez que chegava ao meu ouvido pra sussurrar algo baixinho sobre a história e suavemente se virava pra ouvir minha resposta, cada vez que seus olhos de ressaca me tragavam pra dentro da sua alma e eu era sequestrado pela vontade de tocar seus lábios e ouvir sua respiração quente beijar meu rosto de volta.
Andar de mãos dadas e observá-la sorrir a cada tentativa minha de provocá-la, tentando adivinhar se, ao caminhar, nossas almas acompanhariam o sentido em que nossos corpos seguiam, fazendo com que elas se misturassem em nós como os nossos dedos faziam no lençol da cama que foi testemunha tantas vezes do quanto nossa sintonia era de um só, fazendo com que qualquer conto parecesse algo desinteressante perto das nossas infinitas histórias de amor.
Não era um sacrifício escutá-la contar sobre seu dia, sua vida, tampouco aceitar o filme que ela escolhesse ou seu bico ao discordar das bobagens que eu dizia. O que doía mesmo era ter que ir embora no fim da noite e deixar um pedaço de mim pra trás nas mãos dela, só esperando que ela o guardasse bem, até a próxima vez que a vida me permitisse reencontrá-la e me lembrar, mesmo que de leve, o quão bom é ter a vida roubada por um motivo que valesse à pena.

Cya.

terça-feira, 13 de fevereiro de 2018

Tirar a dor com a mão.

Duncan não gostava de cigarros porque o cheiro o incomodava; não bebia whisky porque não conseguia apreciar o sabor. Acabou por tentar aquecer o peito com a fumaça, tentar disfarçar o gosto amargo da garganta com o álcool. Os casais na rua o incomodavam, as músicas de amor o entediavam e os filmes de romance o enauseavam; suas preferências viraram do avesso. Sempre gostou de tudo preto e, por ironia, a ausência de cor tomou conta por completo do seu mundo. Isso o entristecia. O que havia de melhor não era bom o bastante. Seu melhor não era bom o bastante. Não existia mais saudade, era nostalgia - no seu sentido mais literal. Algo que não estava mais ali e que doía. E como doía. Como pode? Era claro, mas não dava pra entender. A culpa que ele assumia, as fotos que ele rasgava, as lágrimas que rolavam do rosto tanto quanto ele mesmo rolava pela cama que ficara mais larga. Os meses se passaram mais rápido do que as extensas horas de insônia, mesmo que aqueles meses tivessem sido uma vida pra Duncan. Vida curta que passou por outros abraços, tão melhores que os dela, mas não eram os braços dela. E o que ele podia fazer? Qualquer coisa que talvez ela podia ter feito também, se doesse nela tanto quanto. "Gail"! Cada pronúncia era uma ofensa, era um amargo a mais que se acumulava, um a mais que o whisky insistia em tentar remover. Disfarçar. Embora o gelo não fosse tão frio quanto o vazio. Vazio na vida que perdia o sentido porque se acostumara a viver por outra causa que não fosse a sua. Causa perdida, que alguém um dia gravou e jurou amar. Ele, perdido, que alguém um dia jurou amar.

Cya.

segunda-feira, 12 de fevereiro de 2018

Babaca, ataca quem luta por ti.

"Se o diabo amassa o pão, você morre ou você come?
Eu não morri e nem comi, eu fiz amizade com a fome!" - Projota.

Cya.

domingo, 11 de fevereiro de 2018

Desabafo.

Eu venho com frequência encarar a tela branca e a barra de texto piscando. Cheio de idéias idiotas na cabeça, mas sem encontrar uma maneira coerente de vomitá-las. É desesperador.

Cya.

É melhor que sofrer.

"Deixa pra lá
Que de nada adianta esse papo de agora não dá
Que eu te quero é agora
E não posso e nem vou te esperar
Que esse lance de um tempo nunca funcionou pra nós dois

Sempre que der
Mande um sinal de vida de onde estiver dessa vez
Qualquer coisa que faça eu pensar que você está bem
Ou deitada nos braços de um outro qualquer
Que é melhor
Do que sofrer
De saudade de mim como eu tô de você, pode crer
Que essa dor eu não quero pra ninguém no mundo
Imagina só pra você

Quero é te ver
Dando volta no mundo indo atrás de você, sabe o quê
E rezando pra um dia você se encontrar e perceber
Que o que falta em você sou eu." - 5 a seco.

Cya.

sábado, 3 de fevereiro de 2018

Your love is just a lie.

"Amor, quando o nosso vinho amargar ou perder o sabor
Quando a maquiagem borrar e as fotos perderem a cor
Tu ainda vai querer me aquecer quando não me restar nem calor?
E, quando o cigarro apagar, vai ter valido a pena as cinzas e o frescor?

Quando a nossa música tocar, tu ainda vai lembrar do ritmo?
Quando o mundo me machucar, tu ainda vai querer curar minha dor?
Tua voz e tua respiração são meus sons preferidos
Mas, quando eu esquecer de viver, teu olhar ainda vai me lembrar quem eu sou

Ainda vai querer acordar com meu toque e minha voz no ouvido?
Tua vida ainda vai ter sentido se a nossa for tudo o que te sobrou?
Quando chegar o cansaço, meu abraço ainda vai ser teu abrigo
Mas, quando a vida acabar, ainda vai querer ir pro mesmo lugar onde eu vou?

Ainda vai sorrir quando eu for teu único motivo?
Ainda vai ouvir o que eu digo, mesmo quando eu só quiser falar de amor?
Ainda vai tentar me entender quando eu não fizer mais sentido?
E ficar comigo quando tiver visto o pior lado de quem eu sou?" - Luiz Lins.

Cya.

quarta-feira, 31 de janeiro de 2018

Sinceridade, sobre tudo.

Desde os meus primeiros textos defendi ferreamente que dominar a arte de escrever, à grosso modo, é vomitar pelos dedos toda aquela emoção encarnada dentro das mais profundas camadas ou dos cantos mais superficiais do seu ser. Desde que, como sugere Bukowski, aquilo saia de ti como se explodisse. Tem que haver dor, mesmo que seja algo doce. Algo que nasce e que sangra, como um parto; só há vida naquilo se há choro - já aproveitando a metáfora canalha. De maneira prática, arrisco que se algum desses meus textos dos últimos meses pudessem ser torcidos feito uma roupa recém lavada, eles escorreriam uma água grossa e suja.
Estranhamente, acabei concluindo que talvez nunca tenha me sentido tão vivo como agora. Alegria é algo entorpecente, utópico, corrompe o ser. A tristeza ou o ódio te revelam ao mundo e, principalmente, revelam o mundo à você. Me mantenho na esperança de que todo esse expurgo seja apenas momentâneo. De que toda essa sensação e essas revelações empíricas de que a dor e a vida caminham de mãos dadas seja algo como uma mudança de estações, parte do processo de maturação. Minha mente clama por descanso, por rendição, por paz. Que a religião me atinja como um raio, que o capitalismo desenfreado me sequestre, que um amor de mentira, um uísque barato e uma música ruim me roubem; não me importo se será ópio ou morfina. Só quero que me levem de mim e que eu não tenha mais pelo que escrever.

Cya.

terça-feira, 30 de janeiro de 2018

Buscando uma resposta.

"There's an emptiness tonight
A hole that wasn't there before
And I keep reaching for the light
But I can't find it anymore
There's an emptiness tonight
A heavy hand that pulls me down
They say it's gonna be alright
Can't begin to tell me how

And I ask myself out loud

Have I been lost all along?
Was there something I could say
Or something I should not have done?
Was I lost all along?
Was I looking for an answer
When there never really was one?
Was I looking for an answer
When there never really was one?

Is there sunshine where you are?
The way there was when you were here
'Cause I'm just sitting in the dark
In disbelief that this is real
In disbelief that this is real." - Linkin Park.

Cya.

Finja simples ser você.

"Sem saber o que vai acontecer
Sinto o meu peito arder
Será triste o nosso fim?

Meu lugar sempre foi ao lado seu
Sono desapareceu
Tristes meus lençóis são sim
Nessa vida de ilusões eu só posso tentar me defender
Não deixar de acreditar que talvez juntos possa acontecer, então...
Cante alto seus sonhos

Deixe ir, finja simples ser você
Dentro do seu peito arder
Somente o que é bom

Nessa vida as ilusões desaparecem juntas aos refrões
Verdadeiramente escritos não feitos apenas pra vender, então...
Cante alto seus sonhos
Sem saber o que vai acontecer." - Scalene.

Cya.

sábado, 27 de janeiro de 2018

O hoje é veneno.

Me estapeia a cara
hoje, o luto do dia
Estampo o meu lado na luta
hoje, pra mim não há estadia

O veneno diário
que hoje eu bebo um gole a mais
Antecipo a minha morte
que me mata desde a falta que tu faz

E a cada gole desse
brindo eu à tua morte
Pra que do outro lado da cortina
eu seja contrariado à minha sorte

Viver com tal vazio no peito
imerso no veneno que jaz
Banhado de solidão e saudade
que me mata desde a falta que tu faz.

Cya.

sexta-feira, 26 de janeiro de 2018

Não consigo pensar num título.

"O que eu odeio é que algum dia tudo se reduzirá a nada, os amores, os poemas. Acabaremos recheados de terra como um taco barato. Que coisa mais triste, tudo é tão triste - a gente passa a vida inteira feito bobo pra depois morrer que nem besta." - Charles Bukowski.

Façamos nossa parte então, acelerando o processo de morrer que nem besta. Cya.

quinta-feira, 25 de janeiro de 2018

It burns my reality.

"Eu não como, eu não rio
Eu não sei o que é adormecer
Me desculpe se eu fechar os olhos
E desaparecer." - Capital Inicial.

Cya.

segunda-feira, 22 de janeiro de 2018

"Muito prazer, meu nome é otário."

"Senti saudade, vontade de voltar
Fazer a coisa certa, aqui é o meu lugar
Mas sabe como é difícil encontrar
A palavra certa, a hora certa de voltar
A porta aberta, a hora certa de chegar

Eu, que não fumo, queria um cigarro
Eu que não amo você
Envelheci dez anos ou mais
Nesse último mês
E eu, que não bebo, pedi um conhaque
Pra enfrentar o inverno
Que entra pela porta
Que você deixou aberta ao sair." - Engenheiros do Hawaii.

Cya é o caralho.

I feel.

"Pearls and swine bereft of me
Long and weary my road has been
I was lost in the cities
Alone in the hills
No sorrow or pity
For leaving
I feel

Friends and liars
Don't wait for me
Cause I'll get on
All by myself

I put millions of miles
Under my heels
And still too close to you
I feel

I am not your rolling wheels
I am the highway
I am not your carpet ride
I am the sky
I am not your blowing wind
I am the lightining
I am not your autumn moon
I am the night
The night." - Audioslave.

Cya.

While you can.

"Well, when you go
So never think I'll make you try to stay
And maybe when you get back
I'll be off to find another way

And after all this time that you still owe
You're still the good-for-nothing I don't know
So take your gloves and get out
Better get out
While you can

When you go
Would you even turn to say?
''I don't love you
Like I did
Yesterday''

Sometimes I cry so hard from pleading
So sick and tired of all the needless beating
But baby when they knock you
Down and out
It's where you oughta stay

And after all the blood that you still owe
Another dollar's just another blow
So fix your eyes and get up
Better get up
While you can." - MCR.

Cya.

sexta-feira, 19 de janeiro de 2018

About hope.

"Todos os homens sonham: mas não do mesmo jeito. Aqueles que sonham de noite nos recessos empoeirados de suas mentes acordam no dia seguinte para descobrir que seus sonhos eram vaidades: mas aqueles que sonham de dia são homens perigosos, pois podem atuar em seus sonhos com os olhos abertos para torná-los realidade." - T. E. Lawrence.

Cya.

quinta-feira, 18 de janeiro de 2018

Justo eu.

Por recomendação de Vince e insistência de Andrew, acabei aceitando voltar a me encontrar com o Dr. Leonard. Por mais que eu me achasse um caso perdido, eu devia isso aos dois. Em partes, por sua preocupação comigo, afinal eu visivelmente estava piorando exponencialmente desde que Gail partiu. Por outro lado, era meio que um pouco pra alimentar uma certa vingança por eu sempre força-los a procurar um psicólogo quando algo não ia bem, apesar de sempre encaminhá-los aos meus melhores colegas.
O Dr. Carl Leonard foi um dos meus melhores professores na faculdade, e um dos meus preferidos, diga-se de passagem. Ele cobrava mais de mim do que eu pensava poder oferecer, embora ele dissesse que apesar de muitos dos meus companheiros de sala e dos alunos que ele já tivera ensinado tivessem tantas aptidões técnicas quanto eu, poucos tinham a minha sensibilidade e empatia, mesmo que eu não reconhecesse da mesma forma que ele - e muito menos acreditasse naquilo.
Desde que me formei, ele sempre aceitou me ver para batermos um papo descontraído quando algo não ia bem comigo, e por mais que não cobrasse o atendimento, eu preferia que ocorresse de maneira formal. Uma formalidade da qual eu já estava familiarizado. Algo nos cabelos grisalhos ou na rigidez da sua pele morena castigada pela idade me enviavam uma certa tranquilidade paternal que tanto me fez falta durante os anos. Por mais que a carranca que ele apresentasse por trás dos óculos não fosse muito simpática, era um homem muito carismático quando se dava a chance de que ele falasse por cinco minutos.
Nossos diálogos sempre ocorriam de maneira leve, sobre o cotidiano, onde ele tentava burlar minhas defesas naturais e me manipular para que eu me abrisse. Eu gostava da maneira com que ele utilizava das metáforas e analogias para explicar as coisas e concluir algum assunto, era nossa maior semelhança e algo que eu aperfeiçoei assistindo-o. Mas naquele dia em particular, ele se demonstrou preocupado comigo e insistiu muito pra que eu falasse sobre como eu me sentia, de maneira geral. Não me senti como um papo entre dois psicólogos, nem entre dois amigos. Mas como uma criança de frente com algo intimidador. Como se eu me visse ali, encarando-me em busca de uma confissão.
Não refleti, não pensei. Apenas vomitei.
"Em suma, o que eu sinto é uma constante sensação de fracasso. E desde sei lá, meus quinze ou dezesseis eu planejo não passar dos trinta. Eu espero até lá ter feito algo de significativo positivamente, ou que sirva pra continuar me mantendo vivo ou pra ficar de legado. Você vai achar absurdo, patético, até exagero. Mas é como eu me sinto."
"E você vai fazer o que? Se matar, Duncan?" - Disse ele.
"Não vou fazer nada. Só estou falando como me sinto."
"Você não vai passar se você acabar se matando ou se ocorrer uma fatalidade, certo?" - Replicou.
"Viver, do ponto de vista filosófico, abrange muita coisa. Eu posso finalmente me render a ter uma vida medíocre e frustrada, ralar num emprego que eu não gosto pra deixar grandes corporações ou o Estado mais ricos. Abandonar qualquer resquício de sonho que eu tenha até lá, de objetivo, de motivação. E, tendo como base o que eu sinto hoje, duvido que eu chegue até lá. Aí, eu pretendo apenas existir.
Quando você vive, qualquer risco, consequência, premiação, conquista etc, faz tudo valer a pena. A vida demanda esforço. Quando existir se torna um esforço, é doloroso. Mas ninguém entende. As pessoas não ligam a empatia e a compreensão quando ouvem isso. Elas ligam um sentido anti-vitimista passivo-agressivo pra usar perguntas de respostas óbvias, como “por que você não faz nada sobre isso?”. Elas acham que quem se sente assim faz porque acha bonito. Ou pior: se sentem bem quando agem assim.
Elas não entendem que a própria cabeça vira uma prisão, de onde não tem pra onde fugir; algumas se matam, outras se rendem aos narcóticos naturais e sintéticos, outras aceitam se esforçar e transformar cada dia num exercício doloroso pra existir, mas a luz no fim do túnel não existe pra todo mundo. Infelizmente.
É por isso que eu evito falar como eu me sinto. Já tentei ter essa conversa com outras pessoas, e não vai ser você que vai me apresentar uma solução. Por mais que queira me dar uma solução pra isso.
No fundo, ninguém entende. No máximo elas tem pena - e eu odeio a sensação de que sintam pena de mim. Mas entender... Nunca conseguem.
E eu sei que você vai começar a pensar em mim como alguém perdido. Se nem eu faço por mim, quem vai fazer, não é? Minha credibilidade com você já caiu, provavelmente. Você começa a pensar que sou alguém que não vale o risco, um idiota que qualquer hora pode ter um lapso e vai se afogar na pia do banheiro.
Já estou há anos nessa. Foda-se o diagnóstico clínico de que eu sou depressivo desde os quinze, a vida inteira eu me senti deslocado. Utilizei das mais diversas formas pra me sentir melhor, me sentir alguém. Já ficou cansativo, entende?
Já gastei tanto tempo tentando achar forma naquilo que me bate pra ver se eu consigo bater de volta. E às vezes eu disparo uns socos no nada, mas essa coisa levanta cada vez mais irritada, cada vez me batendo mais forte.
Em suma - ou nem tanto - é isso. Entende porque eu não gosto de falar como eu me sinto?"
O timer da consulta apitou. Me senti aliviado por não obter resposta. Ele permaneceu em silêncio por alguns segundos, fitando o nada. Senti que fui agressivo. Não com ele, mas comigo. E ele percebeu.
"Nos vemos semana que vem?" Dr. Leonard despertou do transe, estampou um sorriso forçado e se levantou esticando a mão para um cumprimento de adeus. Assenti com a cabeça e alcancei sua mão. Me virei e ganhei a saída. Deixei o consultório me sentindo mais pesado do que entrei. Falar sobre mim é como engolir meu próprio veneno, fazia eu me sentir desesperadamente imune à psicologia moderna... Justo eu, que ironia. Caminhei um pouco pela calçada e acenei para um táxi. Pensei em passar meu endereço, mas exitei. Senti que precisava de algo mais leve agora. Leveza etílica, pra ser mais específico.
"Toque para o pub mais próximo, por favor!".

Cya.

Fuck God.

"Is that what God does? He helps? Tell me, why didn't God help my innocent friend who died for no reason while the guilty ran free? Okay. Fine. Forget the one offs. How about the countless wars declared in his name? Okay. Fine. Let's skip the random, meaningless murder for a second, shall we? How about the racist, sexist, phobia soup we've all been drowning in because of him? And I'm not just talking about Jesus. I'm talking about all organized religion. Exclusive groups created to manage control. A dealer getting people hooked on the drug of hope. His followers, nothing but addicts who want their hit of bullshit to keep their dopamine of ignorance. Addicts. Afraid to believe the truth. That there's no order. There's no power. That all religions are just metastasizing mind worms, meant to divide us so it's easier to rule us by the charlatans that wanna run us. All we are to them are paying fanboys of their poorly-written sci-fi franchise. If I don't listen to my imaginary friend, why the fuck should I listen to yours? People think their worship's some key to happiness. That's just how he owns you. Even I'm not crazy enough to believe that distortion of reality. So fuck God. He's not a good enough scapegoat for me." - Elliot, Mr Robot.

Cya.

segunda-feira, 15 de janeiro de 2018

Dica do dia.

Sigo uma tradição no blog de ocasionalmente compartilhar aqui os espaços em que algumas das mentes mais brilhantes, que tenho o privilégio de ter na minha vida, usam para traduzir seus sentimentos e emoções em palavras para o prazer de quem as aprecia.
Hoje deixo aqui como recomendação o cantinho da Gabi. Minha colaboradora, parceira de crime no livro que espero publicar em um futuro não distante e, principalmente, grande amiga, que com a sua versatilidade e sensibilidade nos ilumina com o seu brilho e seu brilhantismo.
Vale à pena cada linha:
https://www.recantodasletras.com.br/autor_textos.php?id=195656

Cya e deleitem-se.

Anymore.

"Todos os dias bem cedo, Gail desperta e levanta, ainda meio sonolenta em direção ao banheiro que fica ao lado do quarto pequeno e, quase sempre, bagunçado. Como toda manhã, escova os dentes e entra no chuveiro, pois o dia só começa depois de um banho. Enquanto enche a mão de shampoo e espalha a espuma macia sobre os cabelos começa a pontuar os itens do dia. Se embrulha na toalha e tira o excesso de água do cabelo. Sem preocupação, escolhe uma música que, muito embora a playlist seja bem extensa, a pronúncia da palavra "anymore" de Jack Johson em "Sunsets for anybody else" sempre soa como um abraço quentinho, que não é comum quando se mora e se vive sozinha. Os vizinhos com certeza já cantam sem olhar a letra. Anda descalça até a cozinha e coloca água para ferver, enquanto mede cuidadosamente duas colheres de café extra-forte na prensa francesa.
A rotina, assim como seus gostos, quase nunca muda. Procura fazer as coisas sempre igual, como se isso confortasse alguma dor ou algum vazio que ela não sabia explicar muito bem. O mesmo café da manhã, o mesmo sabor de sorvete, as mesmas cores de roupa, a mesma mesa do restaurante, que por sinal servia sempre o mesmo prato. Só não cobrava sempre o mesmo lado da cama porque, para ela, só bastava observar o sono tranquilo e a paz de estar perto.
Gail sempre teve muita certeza que não tinha certeza de nada. Gosta de ter muito controle sob tudo apesar de saber que não controla nem o frizz do cabelo. Veste a roupa social do trabalho e sobe no salto que ela faz questão de usar, apesar de saber que não precisa. Coloca a maquiagem que sempre mostra a melhor versão dela mesma e joga o crachá dentro da bolsa. Volta para a cozinha e prensa o café que estava descansando. Tinha o costume de adoçar, mas já não se incomoda tanto com o amargo.
Educou seu paladar assim como educou tantas outras características de si.
Olha no relógio e engole rápido percebendo que já está atrasada. Pega as chaves e joga a bolsa nos ombros. Acende a luz do corredor e o celular vibra de repente. Pressiona a visualização rápida e lê um simples "bom dia". Veste o melhor sorriso e sai, para brilhar mais um dia, sunshine." - Gabrielle Benatti.

Gail, por Gail.

Cya.

É meu direito.

"Eu sei que a dor é sua, e que não pode dividir comigo, mas posso passar ela com você.
Hey, eu queria dizer que eu estou aqui, pode ser que não do seu lado, não presencialmente, mas eu estou aqui. Eu sei que tem dias que tudo pesa, exatamente tudo. As músicas estão altas demais, as pessoas falam alto demais, as nossas dores doem demais.

E por mais fortes que tentemos ser, às vezes caímos, seja essa queda por dentro, ou por fora. E eu sei que tem coisa que eu não consigo resolver, tem coisa que são totalmente suas, mas queria que soubesse que tô aqui pra pelo menos dizer que vai ficar tudo bem, e que vou ficar com você.

Eu sei que dói, afinal, eu também sinto. Nós sentimos e ficamos deslocados com nossa dor. Escolho o silêncio, a solidão, a máscara com um sorriso caindo aos pedaços, escolhemos nos encher com palavras vazias, escolhemos tantas coisas só pra poder fazer parar doer. Eu sei, eu sinto.

Mas eu sinto a minha dor, assim como você sente a sua, eu posso não saber como fazer parar, não sei como te deixar melhor, mas você pode me contar. Eu vou estar sempre aqui, pode ser que eu esteja longe, não esteja presente, mas quero que saiba da minha presença.

Eu posso não saber o que dizer, mas fico em silêncio do teu lado, sei que a dor é sua, que não pode dividir comigo, mas eu posso passar ela com você." - Mateus Santana.

Cya.

quarta-feira, 10 de janeiro de 2018

She's got the jack.

Era uma sensação curiosa ser o único cliente com um copo de uísque no meio da tarde num café tipicamente novaiorquino, uma dose de álcool entre tantos lates, capuccinos e mufins das outras mesas. Curiosa e que, ao mesmo tempo, não me incomodava. Ninguém se importaria com aquilo nem que o copo estivesse cheio de sangue. No mês de Janeiro toda aquela falsa preocupação com o próximo que acontece no mês de Dezembro, inspirada pelo Dia de Ação de Graças e em seguida o Natal, desaparecia. Todas as pessoas voltavam a se importar unicamente com as suas próprias vidas e os seus fracassos e infelicidades particulares. Aliás, elas voltavam a não se dar ao trabalho de se iludirem ou tentarem iludir uns aos outros de que se preocupavam com alguma coisa além delas mesmas. A sensação de estar sozinho num mundo onde ninguém se importa. Um mundo onde você se sente um lobo solitário numa floresta de aço e concreto, cercado por um enxame de milhões de seres de carne e smartphones, o tempo todo, e ainda assim solitário. Sorvi mais um gole generoso de uísque.
Fiz um sinal com a mão. Uma moça loira, com os cabelos compridos e finos e uma franja bem cortada, dos seus vinte e poucos anos, que provavelmente trabalhava ali pra pagar a faculdade, atendeu ao meu chamado e trouxe a garrafa de Jack Daniels imediatamente. Ela atendia com um sorriso tímido, embora simpático. Enquanto ela servia a bebida, pensei em fazer uma graça com uma das minhas músicas preferidas do AC/DC e cantar "She's Got The Jack". Projetei na minha mente e preferi me calar, além do próprio mr. Daniels, ela era o que eu tinha mais próximo de ser um amigo ali. No mínimo, era alguém que não se fazia indiferente à minha presença e eu poderia acabar arruinando isso se agisse feito um babaca. Antes que ela lançasse um movimento de retirada, pedi que deixasse a garrafa e retribuí o sorriso simpático que ela lançara inicialmente. Ela consentiu, mais simpática ainda dessa vez. Consegui interpretar um certo alívio no seu semblante ao perceber que não estava lidando com um bêbado. Quisera eu estar bêbado. Traguei mais um gole. Parei. Não... nada ainda.
Lancei um olhar por cima da garrafa. Resolvi me distrair olhando ao redor, analisando o ambiente do lugar privilegiado onde eu me encontrava, numa poltrona vermelha no fundo do Café. Era aconchegante, sofás e poltronas confortáveis em volta das mesas quadradas, alguns bistrôs de madeira, várias luminárias e lustres pelo lugar, um balcão com várias opções de doces e bolos e atrás desse as mágicas máquinas de café. Não era muito grande, mas cada pessoa que estava ali com certeza se sentia num espaço que a abraçava e acolhia. Nas paredes, alguns quadros de pontos turísticos clássicos e tradicionais da cidade e, perto de um pequeno palco vazio ao lado da porta onde à noite aconteciam alguns shows acústicos, havia uma coleção de quadros de algumas estrelas do Blues e do Jazz - extremamente familiares pra mim, em particular. Um deles me chamou a atenção mais do que os outros: era uma pintura de Robert Johnson tocando de costas. Ele era uma lenda do Blues e um dos meus prediletos, que outrora diziam ter vendido a alma ao Diabo pra conseguir ser tão bom com as cordas, e tocar de costas era uma artimanha para "esconder a influência do demônio" sobre seus dedos, segundo os conspiradores.
Já me sentindo um pouco zonzo, mirei novamente meu copo. Estava vazio. Virei a garrafa sobre ele e assisti as golfadas do líquido sujo encherem-no, enquanto a visão enchia-me de paz. Entorpecido pelo álcool, eu costumava romantizar um pouco menos sobre a vida. Afastar a sobriedade me afastava um pouco da poesia também, embora esse não fosse um dia comum. Ponderei sobre o álcool, a ideia sobre o demônio, sobre todas aquelas pessoas ali e comecei uma inevitável divagação sobre a vida. Nada daquilo tudo ia além do que reações químicas no meu cérebro, mas nós, seres humanos, arrogantes como nenhum outro ser, somos viciados à necessidade de ter controle sobre tudo. Álcool, drogas, doses cavalares de remédios... A necessidade de acelerar ou diminuir os processos químicos nos dava a falsa sensação de sermos deuses, manipularmo-nos como achávamos que deveríamos. Deuses, não. Quiçá pobres diabos.
O sino da porta me despertou do devaneio. Lancei um olhar em direção à entrada. Minha avó costumava dizer que falar sobre o demônio era nada mais do que um convite pra ele entrar. Ela só não esperava que além de convidá-lo a entrar, ele caminharia na minha direção e ainda diria: 'Que bom que você viu meu recado, Duncan. Achei que você não viria.'
O som da voz fez a paz do uísque desaparecer.
'Olá, Gail.' (...)

Cya.

terça-feira, 9 de janeiro de 2018

Verdades incontestáveis.

"Muitas vezes as coisas que me pareceram verdadeiras quando comecei a concebê-las tornaram-se falsas quando quis colocá-las sobre o papel." - Descartes.

Cya.

Parte dois da parte dois.

"Tira a maquiagem pra que eu possa ver
Aquilo que você se esforça pra esconder
Agora somos só nós dois, já podes parar de fingir

Mas cala essa boca e me diz com o olhar
Quem era você até me encontrar?
Se agora és diferente
O que eu fiz que te fez mudar?

Eu lembro dos lábios
Tremendo ao dizer: Eu não vivo sem você

Então diga
Que não vai sair da minha vida
Diga que não passa de mentira
Quando dizem que o amor morreu

Tira essa roupa pra que eu possa ver
Que não há uma arma tentando se esconder
O mal vive num lar perfeito e sem infiltração

Tira o cabelo da cara e me diz
Se por um segundo quiseste me ver feliz
Ou se és o meu destino tentando me dar outra lição

Eu lembro de cerrar os punhos pra dizer: Eu não amo mais você

Então diga
Que não volta mais pra minha vida
E que a nossa estrada é bipartida
Esqueça o dia em que me conheceu

Então diga
Que nem todo dinheiro dessa vida
Não vai comprar de volta acolhida
No peito de quem já foi todo seu." - Fresno.

Cya.

quarta-feira, 3 de janeiro de 2018

Hello, friend.

"Sometimes I dream of saving the world. Saving everyone from the invisible hand, the one that brands us with an employee badge, the one the forces us to work for them, the one that controls us every day without us knowing it. But I can't stop it. I'm not that special. I'm just anonymous. I'm just alone." - Elliot, Mr. Robot.

Cya.