sexta-feira, 26 de abril de 2019

Apêndice - ou hemorroida.

Nos primeiros dias, você acorda e um dos lados da cama está vazio, com o lençol gelado e totalmente intocado. Passados mais alguns, você pensa se há saudade do lado de lá. Se há espera ao lado do telefone, aguardando um dos lados emergir do mar de orgulho. Quando a esperança começa a se esvair, a preocupação é de que as fotos no celular sejam só lembranças ruins, já apagadas, e os porta-retratos estejam vazios no fundo de alguma gaveta. No fim das contas, as fotos têm outros rostos e os porta-retratos já voltaram para onde nunca deveriam ter saído, com alguém que na verdade nunca deveria estar lá.
No final das contas, no trilho de tristezas e desgraças que fazem o que existe dentro estourar e, consequentemente, deixar o que há fora totalmente coberto, você chega na conclusão máxima: O maior mistério da vida é a morte, a não ser que a morte seja a única resposta pra vida.

Cya.

sábado, 13 de abril de 2019

Fuck you, fuck me. Fuck us all.

Uma vez depressivo, o poeta se apoia na ideia de que os eufemismos, com sua poderosa licença poética diante das obrigações gramaticais, o convença de que os problemas e as mazelas da vida não são tão graves quanto parecem ser.
Introdução devidamente apresentada, posso dizer eu, como poeta, que a vida é uma constante agressividade contra o eu-lírico, que constantemente tenta encontrar desculpas esfarrapadas e os próprios eufemismos pra continuar num caminho sem sentido e sem futuro aparente pela simples e singela motivação do inesperado, do desconhecido, tão atrativo aos seres humanos comuns e a esse próprio poeta, correndo e nadando contra a maré da realidade.
Dito isso, sou obrigado a afirmar que a vida é um amontoado de eufemismos - sim, insisto - para que esses tornem essa existência uma coisa um pouco mais afável ou no mínimo menos desagradável.
Hoje entendo o porquê de todos os poetas que existiram antes de mim - e os que hão de existir - questionam insistentemente o sentido da vida e porque somos e estamos. Não é a vontade de viver, mas a insistência em resistir ao deixar de viver que nos mantém aqui, de pé, em frente ao palco da vida que nos prometem a esperada, dentro da existência e além dela, uma vida eterna.

Bukowski, como uma das minhas maiores influências romancistas, já demonstra que estamos aqui para sofrer, e que nem a embriagues, como a que busco, nos salvam de refletir sobre o inferno que vivemos nessa, e não em outras vidas, atados ao eterno chicoteamento e torturamento que o simples fato de sermos os vencedores de uma corrida que nos premia como uma existência pífia e minimalista diante de um universo imenso onde nosso papel não é sequer digno de iluminação ou abertura de cortinas.

Aceitemos nossa pequenez. Ou se iludam com a grandiosidade que vos é vendida - o que acho mais possível.

Cya e um pau no seu cu.

terça-feira, 9 de abril de 2019

Se não em uma, nenhuma.

Vamos nós por um caminho
onde uma ponte se divide em duas
continuamos divididos
e tão longe
Éramos nós do mesmo lado

Indaguei a mim mesmo porque na primeira vez
no novo velho sentimento
com gosto de solidão
rasguei os lençóis
intimamente divididos
vermelhos de um velho conhecido
enquanto o desacerto que causei permaneceu
ligeiramente nos distanciando

Cantando aos nossos ouvidos
agora já é tarde
rindo em lágrimas jaz
ode ao riso fácil
lamento ao meu algoz
indiscriminadamente vítima
natimorta oportunidade
enquanto um de dois eu for.


Cya.