quarta-feira, 29 de agosto de 2018

Coragem e medo.

Esse monte de bosta que eu vou vomitar agora parece coisa de Duncan, mas é só de Dante mesmo. Eu sempre me pego observando e invejando do meu esconderijo covarde a motivação que as pessoas tem de se aventurar pelo mundo, de abandonar certas coisas pra trás, de sair da sua zona de conforto, de tentar caminhos diferentes dos usuais. E apesar de ser frase de filme de herói, sempre me bate a reflexão de tentar entender até onde é coragem e até onde é medo o que motiva essas pessoas a fazerem sempre mais do que é esperado, dentro dos seus limites.
Assisti uma palestra do Eduardo Marinho em que ele diz que as pessoas sempre interpretaram a sua iniciativa de abandonar tudo como uma coragem invejável, enquanto ele afirma que o que mais o motivou foi o medo de ter uma vida sem sentido. Hoje, se eu me indago sobre o mesmo, é um medo excessivo. Um medo absurdo e infundado, quase que inconsciente, de tentar coisas novas. Medo digno de me fazer diariamente deitar na cama em posição fetal e esperar que um belo dia eu tenha a coragem de lidar com o o mesmo e finalmente dar cabo de tudo. De parar de ser covarde até pra isso.
Mas se há a opção de solucionar isso com um abandono absoluto de tudo, por que a minha vontade de não ter uma vida sem sentido não me motiva tanto quanto a sair daqui? A matar esse pessoa que me prende pra baixo e me esmurra a cara sempre que eu tento sair da minha jaula, de deixar nascer uma nova que vai ter a coragem o suficiente pra buscar algo novo? Novas perspectivas, novas visões, novas aventuras e novos caminhos.
O conteúdo dessa junção de palavras são o mesmo que tenho da vida: muitas perguntas, quase nenhuma resposta, menos ainda motivação, seja pelo medo ou pela coragem. Esse é o tipo de pessoa que a seleção natural teria facilidade em eliminar, não fossem as circunstâncias favoráveis que eu tivesse pra ter tempo de ficar na cama pensando nessas porcarias.
E quando se está parado, a perspectiva é de que o mundo tá passando cada vez mais rápido ao seu redor, de que você tem cada vez menos tempo pra tentar quebrar do casulo e voar, que as oportunidades de fazer tudo isso ficarão cada vez mais escassas. Como se não bastasse a pressão em que eu me coloco o tempo inteiro, sabotando qualquer vestígio de luz no fim do túnel, tem a pressão externa com que a gente tem que lidar. A analogia mais apropriada pra tudo isso é de que uma parede que vem de dentro te empurra dum lado, enquanto as perguntas de "você precisa se motivar, sair disso, precisa fazer algo da vida!" são a parede que te fecham do outro lado culminando num esmagamento.
Tudo que eu espero é que algo acabe me esmagando de vez mesmo, me libertando finalmente desse desespero.

Como eu digo desde o início do blog, a maioria das coisas que eu escrevo não faz sentido algum.

Cya.

segunda-feira, 27 de agosto de 2018

Longe do horizonte.

Lorann era uma frágil efígie que parecia ter nascido como uma das mulheres mais maravilhosas que eu em infinitas vidas não ousaria sonhar. Nas qualidades que tínhamos em comum me superava, e nos defeitos me mostrava, numa apresentação homérica, como eu deveria ser. Estar na companhia dela era como uma tarde no parque, onde nos deitávamos de frente para o céu azul com ligeiras pinceladas de cinza, sentindo o cheiro gostoso que emanava da grama verde que fora beijada pelo orvalho da manhã, ouvindo o som dos galhos das árvores valsando em harmonia com o vento, observando a queda das folhas amareladas que cortavam o ar, girando e flertando com a queda iminente ao chão.

Eu fiquei por um longo momento sentado no chão, escorando minhas costas na parede gelada, encarando de frente a porta dela com a minha expressão mais pálida. Essa porta, que eu sabia que não se abriria mais. Não havia mais chave por cima da lamparina de metal, da qual eu havia reforçado para que ela não queimasse as pontas dos dedos quando a recolhesse. O sorriso de bordas curvadas não sairia mais dali, aquela paz jamais viria de novo ao meu encontro, ela não me pertencia mais. Nunca pertenceu. Eu tinha me apaixonado por tudo de bom que ela representava, pelo refúgio que minha mente rebelde encontrava na manumissão graciosa que ela dispunha ao meu ego flagelado.
O seu espírito livre me emprestava a sensação que há muito me havia sido privada e, mesmo depois de tudo que compartilhamos, eu sabia que ela não era minha. Eu não podia entregá-la essa responsabilidade de pertencer a alguém, principalmente a mim. Por momentos, eu a tinha comigo. Mas se eu a tivesse de vez, a aprisionaria na mesma cela suja e gelada em que eu vivia. Deixei-a ir. O céu que ficava há poucos metros do meu inferno se foi, voltando ao estado natural, aquele que apenas os limites do horizonte uniam. Meu inferno pessoal, que só pertencia a mim. Aquele que eu não poderia mais convidar alguém pra visitá-lo. Nunca mais.

quarta-feira, 22 de agosto de 2018

No silêncio dos olhos.

"Em que língua se diz, em que nação,
Em que outra humanidade se aprendeu
A palavra que ordene a confusão
Que neste remoinho se teceu?
Que murmúrio de vento, que dourados
Cantos de ave pousada em altos ramos
Dirão, em som, as coisas que, calados,
No silêncio dos olhos confessamos?" - Saramago.

Cya.

sexta-feira, 17 de agosto de 2018

FAQ 2.

Há alguns anos eu fiz um Frequently Asked Questions pra esclarecer algumas coisas que as pessoas me perguntavam em relação ao blog e, devido à minha ausência nos últimos tempos, achei necessário deixar uma nota.

Não, eu não parei com o projeto do livro. Ele continua rodando nos bastidores, salvo tudo aqui no PC mas me reservei ao direito de me abster de publicá-lo em trechos aqui no blog. Isso não se deve ao fato de conflito de ego, ou de "suspense" sobre alguma porcaria do conteúdo nem nada disso. O processo de criação dele e a minha relação emocional e psicológica com o enredo funciona como uma espécie de cordão umbilical. Cada palavra é ligada a um sentimento e ambos me nutrem com veneno, se me é permitido tal analogia contraditória. Geralmente, quando temos esse tipo de relação com alguma coisa, nos sentimos expostos e frágeis de alguma forma. Talvez eu continue soltando alguns trechos importantes aqui, mas talvez eu também prefira expurgar tudo de uma vez, quando o meu sonho de publicá-lo oficialmente se concretizar. Vomitar aos poucos faz mal, e esse veneno precisa ser removido de uma vez só.

Eu funciono por processos cíclicos, como naturalmente qualquer coisa funciona. É por esse motivo que eu às vezes fico um tempo sem compartilhar algum trecho de alguma música ou poema de merda sobre algo sem sentido. Dentro desses ciclos, eu tenho dois padrões: a escrita subjetiva, subentendida e vítima de metáforas e analogias, onde as coisas que saem de mim são, como sempre insisto em dizer, vomitadas; do outro lado, tenho o padrão do abstrato, que são esses períodos de ausência. São épocas em que minha cabeça se torna um turbilhão de pensamentos e ideias tão grande que não consigo conceber uma maneira que faça o mínimo de sentido pra expressá-los, por isso evito. O blog não fica esquecido, de maneira alguma. Leio, releio, vou lá nas primeiras publicações, revejo meus conceitos, meus antigos pensamentos, reflito, pondero. Mas não encontro maneiras de tentar jogar "no papel" qualquer tipo de coisa.

Qualquer outra dúvida, sugestão, indagação, contestação etc, passe aqui em casa, me convide pra tomar um café e vamos discutir sobre, pra mim será sempre um prazer.

Cya.