quinta-feira, 28 de novembro de 2019

Overlord.

Quando chegar ao inferno, quero ser recebido por Gary B. B. Coleman tocando "The Sky is Crying" enquanto o Abu recita meu epitáfio. Serei arrogante no pós vida - se é que isso pode ser chamado de vida.

Cya.

sábado, 27 de julho de 2019

No one to cry to, no place to call home.

"Quando estava deprimido, produzia bons poemas. Por produzir bons poemas, ficava feliz. Logo, a qualidade do que eu escrevia caia por não estar mais triste. Eu precisava estar deprimido pra produzir."

O mesmo professor que repetia essa frase - da qual desconheço o autor -, dizia que "a felicidade não é um bem que se mereça". Essa, sim, eu sabia. Era de Jorge Forbes. Inocentemente, ele afirmava que a felicidade não precisa ser merecida pra se fazer presente. Essa era algo primitivo, não derivado. Era algo que não precisava ser consequência, mas existir pelo fato de si só.

Os dias se passavam e os tons sem vida das paredes encaravam o amontoado de carne e moletons que eu era. Permaneci encarando-as de volta e, sem querer, comecei a perceber não ter nascido pra ser feliz. Sempre fui do tipo destonante, discordante. Não por rebeldia, mas as perguntas sempre eram mais interessantes do que as respostas. Ir além do que se mostrava fácil, do que simplesmente se desenrolava.

Posso não ter fracassado na missão de ser normal, regular. Melhor assim. Eu nunca experimentei a sensação de estar naturalmente feliz, não conseguia conceber tal ideia. Forbes acertou na frase, embora se precipitado na medida. A felicidade não é um bem que se mereça, e eu, Duncan, estava no time dos que não mereciam. Quiçá não precisavam. Os corações costumam vagar em busca de calor, de um peito que os acolha, que derreta o gelo do frio que a solidão planta no peito.

Há aqueles que nascem pra ser partida, há os que nascem pra ser chegada. Eu nasci pra ser o estado natural da depressão, aquele coração que persegue e que vagueia, não o que encontra.

Cya.

Otimismo é um pessimismo transvestido.

"Pensava ser um fracasso
em tudo
Até descobrir ser
o melhor dos
fracassados."

Cya.

sexta-feira, 26 de abril de 2019

Apêndice - ou hemorroida.

Nos primeiros dias, você acorda e um dos lados da cama está vazio, com o lençol gelado e totalmente intocado. Passados mais alguns, você pensa se há saudade do lado de lá. Se há espera ao lado do telefone, aguardando um dos lados emergir do mar de orgulho. Quando a esperança começa a se esvair, a preocupação é de que as fotos no celular sejam só lembranças ruins, já apagadas, e os porta-retratos estejam vazios no fundo de alguma gaveta. No fim das contas, as fotos têm outros rostos e os porta-retratos já voltaram para onde nunca deveriam ter saído, com alguém que na verdade nunca deveria estar lá.
No final das contas, no trilho de tristezas e desgraças que fazem o que existe dentro estourar e, consequentemente, deixar o que há fora totalmente coberto, você chega na conclusão máxima: O maior mistério da vida é a morte, a não ser que a morte seja a única resposta pra vida.

Cya.

sábado, 13 de abril de 2019

Fuck you, fuck me. Fuck us all.

Uma vez depressivo, o poeta se apoia na ideia de que os eufemismos, com sua poderosa licença poética diante das obrigações gramaticais, o convença de que os problemas e as mazelas da vida não são tão graves quanto parecem ser.
Introdução devidamente apresentada, posso dizer eu, como poeta, que a vida é uma constante agressividade contra o eu-lírico, que constantemente tenta encontrar desculpas esfarrapadas e os próprios eufemismos pra continuar num caminho sem sentido e sem futuro aparente pela simples e singela motivação do inesperado, do desconhecido, tão atrativo aos seres humanos comuns e a esse próprio poeta, correndo e nadando contra a maré da realidade.
Dito isso, sou obrigado a afirmar que a vida é um amontoado de eufemismos - sim, insisto - para que esses tornem essa existência uma coisa um pouco mais afável ou no mínimo menos desagradável.
Hoje entendo o porquê de todos os poetas que existiram antes de mim - e os que hão de existir - questionam insistentemente o sentido da vida e porque somos e estamos. Não é a vontade de viver, mas a insistência em resistir ao deixar de viver que nos mantém aqui, de pé, em frente ao palco da vida que nos prometem a esperada, dentro da existência e além dela, uma vida eterna.

Bukowski, como uma das minhas maiores influências romancistas, já demonstra que estamos aqui para sofrer, e que nem a embriagues, como a que busco, nos salvam de refletir sobre o inferno que vivemos nessa, e não em outras vidas, atados ao eterno chicoteamento e torturamento que o simples fato de sermos os vencedores de uma corrida que nos premia como uma existência pífia e minimalista diante de um universo imenso onde nosso papel não é sequer digno de iluminação ou abertura de cortinas.

Aceitemos nossa pequenez. Ou se iludam com a grandiosidade que vos é vendida - o que acho mais possível.

Cya e um pau no seu cu.

terça-feira, 9 de abril de 2019

Se não em uma, nenhuma.

Vamos nós por um caminho
onde uma ponte se divide em duas
continuamos divididos
e tão longe
Éramos nós do mesmo lado

Indaguei a mim mesmo porque na primeira vez
no novo velho sentimento
com gosto de solidão
rasguei os lençóis
intimamente divididos
vermelhos de um velho conhecido
enquanto o desacerto que causei permaneceu
ligeiramente nos distanciando

Cantando aos nossos ouvidos
agora já é tarde
rindo em lágrimas jaz
ode ao riso fácil
lamento ao meu algoz
indiscriminadamente vítima
natimorta oportunidade
enquanto um de dois eu for.


Cya.

sexta-feira, 22 de março de 2019

E o que de mim restou?

"Por mais que possa parecer menor
Hoje posso ver que enterrei em mim
Tudo que não me fez valorizar
E afastou o que em tempos foi o meu melhor

Não posso mais me enganar que não está em mim
Que você não está mais em mim e mesmo que não durar
Eu vou lutar e te fazer morrer mais uma vez.

E quando eu ver que não estou ouvindo a mim mesmo
Vou reparar todos os buracos que ficaram
E nunca deixar que essas grades me sufoquem

Eu não vou deixar que o tempo leve o que sobrou de mim." - Aurora Rules.

quarta-feira, 20 de março de 2019

Colide.

Odeio quem sou
por ser nas partes
e no todo
construído de amor

Esse que odeio
que respiro
que inalo como combustível
que exalo como veneno

Exceto quando esse pinga
ou se despeja
numa corrente que arrasta
ou que afoga

Mas que ainda assim afaga
e na imprescindibilidade
me salva do tombo
e me põe de joelhos

Que me dá mais uma chance
de desistir de novo todo dia
de acreditar que o que nasce amanhã
é uma bela oportunidade
pra morrer de amor.

Cya.


quarta-feira, 30 de janeiro de 2019

Não sei viver.

Eu tinha certo ceticismo em crer na bondade das pessoas. Em partes porque eu assistia ao egoísmo com que as pessoas agiam diariamente, em partes porque só eu sabia que nas minhas tentativas de tentar dar meu melhor tinham que suprimir certo egocentrismo que existe intrinsecamente em cada ser humano. Mas tinha um lugar em que eu sabia que a bondade existia, e aos montes.

Nos meus primeiros dias no hospital, o que mais mexeu comigo foi a ala pediátrica. Aqueles pequenos, carequinhas, visivelmente abatidos fisicamente, mas que ainda continham um brilho intenso. Uma inocência celeste em relação ao mal que enfrentavam, e isso os dava uma força imensa, eles simplesmente lutavam, de maneira pura, sem ao menos saber a agressividade do seu adversário. Os recém chegados ainda apresentavam olhos assustados, e aos poucos iam se acostumando. As rotinas árduas dos tratamentos, a debilidade física causada pelos mesmos - além das da própria doença. E ainda assim elas sorriam, riam, brincavam.

Elas eram uma fonte de carinho que cativava de maneira ímpar todos que ali trabalhavam, e nos atingiam violentamente quando fatalmente partiam. Era uma injustiça imensa que fossem forçados a passar por isso ainda tão pequenos. Eu achava injusto até com os adultos, com eles, então... A doença era sutil, silenciosa e traiçoeira. Eu ouvia de vários pais que aquilo, infelizmente, era a vontade de deus. Se houvesse um deus, ele não haveria de permitir que aquilo acontecesse. Aquilo soava ridículo, eram pais justificando o sofrimento dos filhos como uma vontade divida.

Deus... Esse era mais um dos motivos que me faziam duvidar da bondade das pessoas. Uma mera barganha dos seus seguidores para que suas almas não queimassem eternamente no fogo do inferno. Aquilo não era sincero, não tinha legitimidade alguma. Essas seriam as mesmas pessoas que pendurariam Jesus de novo numa cruz. Esse que é uma das pessoas mais bondosas da história, e ele terminou julgado e condenado pelos próprios a quem ele supostamente viera salvar.

Em certas horas, tudo isso me consolava ainda mais quando eu me sentia o próprio diabo.

Cya.

quinta-feira, 17 de janeiro de 2019

Amanhã tão distante, tão longe de mim.

(...) Observei cada um de seus passos enquanto ela subia as escadas e seus dedos deslizavam sobre o corrimão de ferro. Os saltos dos seus sapatos emitiam um som peculiar enquanto encontravam as pedras dos degraus, como se anunciassem de maneira sutil e eloquente uma saída triunfal. Ela abusara da oportunidade de poder usar um vestido em uma rara noite quente, pelo menos nessa época do ano, todo branco, que cintado ao seu corpo fazia das suas curvas algo absurdamente atraente. Sua presença enquanto caminhava era imponente, soava encantadora.

Permaneci da calçada a observando, como fiz a noite toda. Durante o jantar, captei cada detalhe do seu jeito: como ela era tímida ao sorrir, apenas pressionando os lábios, misturando a inocência de uma menina com um charme diabólico, fazendo as covinhas se sobressaírem. A maneira como os seus olhos verdes miravam minha boca enquanto eu falava, como se fossem esmeraldas delicadas, fixadas com maestria num engaste branco, em um contraste perfeito com o contorno preto dos seus olhos. Na maneira como ela desfrutava da minha companhia com a mesma facilidade que eu aproveitava a dela.

Ao chegar em frente a porta, ainda sem preparar a chave para abri-la, ela me convidou para um café. Já era tarde, o sono alcoólico já havia flertado comigo, achei que seria interessante algum estímulo para que a caminhada solitária pra casa fosse menos agoniante, e eu aceitaria qualquer desculpa pra desfrutar só mais um pouco da sua companhia. Talvez, nos meus sonhos mais otimistas, conseguir o beijo - mesmo que de despedida - que eu tanto desejei durante toda aquela noite.

Subi as escadas e tomei o rumo da porta. Enquanto ela a segurava aberta para que eu entrasse, percebi que seu corpo não havia se movido para que eu passasse. Não sei se interpretei da maneira correta ou se foi um ato de improviso, mas com uma mão apoiei sua cintura, com a outra fechei a porta atrás de mim. Em uma resposta rápida, senti seu corpo se aproximar do meu. Os poucos segundos que separaram sua boca de encontrar a minha foram o suficiente pra me despertar ansiedade e um certo frio na barriga.

Terminei por jogar meus braços completamente pela sua cintura e aproximar mais ainda seu corpo contra o meu, para que não houvesse espaço não preenchido entre nós dois. Seus dedos finos se entrelaçaram entre os meus cabelos e rapidamente desceram pela minha nuca, meu pescoço e alcançaram meu peito, onde ela delicadamente desabotoava os primeiros botões da minha camisa. Percorri vagarosamente o caminho entre sua boca e seu pescoço, sentindo cada vez mais seu corpo trepidar e sua respiração acelerar conforme eu tocava sua pele.

Essa sua pele, que eu sentia a maciez com os lábios enquanto beijava seu pescoço e com as mãos, mesmo por cima do seu vestido. Seu cheiro doce me entorpecia, despertando algo em mim que nitidamente dizia que eu sairia de controle em poucos minutos. Ao terminar de desabotoar minha camisa, senti sua mão me acariciar, suas unhas levemente percorrerem minha pele, o suficiente para que ela se apoiasse confortavelmente em mim, empurrando meu corpo contra a parede do corredor.

A beijei como fosse a última coisa que eu faria na vida.