terça-feira, 13 de fevereiro de 2018

Tirar a dor com a mão.

Duncan não gostava de cigarros porque o cheiro o incomodava; não bebia whisky porque não conseguia apreciar o sabor. Acabou por tentar aquecer o peito com a fumaça, tentar disfarçar o gosto amargo da garganta com o álcool. Os casais na rua o incomodavam, as músicas de amor o entediavam e os filmes de romance o enauseavam; suas preferências viraram do avesso. Sempre gostou de tudo preto e, por ironia, a ausência de cor tomou conta por completo do seu mundo. Isso o entristecia. O que havia de melhor não era bom o bastante. Seu melhor não era bom o bastante. Não existia mais saudade, era nostalgia - no seu sentido mais literal. Algo que não estava mais ali e que doía. E como doía. Como pode? Era claro, mas não dava pra entender. A culpa que ele assumia, as fotos que ele rasgava, as lágrimas que rolavam do rosto tanto quanto ele mesmo rolava pela cama que ficara mais larga. Os meses se passaram mais rápido do que as extensas horas de insônia, mesmo que aqueles meses tivessem sido uma vida pra Duncan. Vida curta que passou por outros abraços, tão melhores que os dela, mas não eram os braços dela. E o que ele podia fazer? Qualquer coisa que talvez ela podia ter feito também, se doesse nela tanto quanto. "Gail"! Cada pronúncia era uma ofensa, era um amargo a mais que se acumulava, um a mais que o whisky insistia em tentar remover. Disfarçar. Embora o gelo não fosse tão frio quanto o vazio. Vazio na vida que perdia o sentido porque se acostumara a viver por outra causa que não fosse a sua. Causa perdida, que alguém um dia gravou e jurou amar. Ele, perdido, que alguém um dia jurou amar.

Cya.

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