sábado, 15 de julho de 2017

Morrer, no bom sentido.

Duncan despertou no meio da noite, como há tempos não fazia. Atordoado, notou as luzes do quarto. Uma pequena e vermelha do rádio-relógio em cima do criado. A outra vinha timidamente da janela, projetada pelo poste da rua. Encontrou a firmeza que precisava para se recobrar quando notou Gail dormindo, com a cabeça apoiada em seu ombro e seu braço depositado em seu peito. Seu semblante era pleno. Arriscava até que fosse um sorrisinho. Esticou o braço livre e colocou atrás da sua orelha uma mecha do cabelo negro que contrastava com a pele pálida, sem que a acordasse. Parou. Que sensação era aquela? Por mais que refletisse, não conseguiu nomear. Ninguém num momento daqueles conseguiria. Há coisas que não precisam de rótulos, precisam de essência. Precisam ser sentidas. Foi o que Duncan fez. Poucos minutos dedicados ao espetáculo que ali se passava o fizeram perceber que dá pra ser feliz eternamente num espaço de poucos minutos. Abraçou-a, apertando e chocando suavemente seus corpos. Ganhou outro em resposta, com braços se enlaçando e um nariz delicado roçando em seu peito. Em meio ao ensurdecedor silêncio da madrugada, ele descobriu que ali ele poderia morrer. E aquilo era fazer isso no bom sentido.

Cya.

Nenhum comentário:

Postar um comentário