Eu tinha certo ceticismo em crer na bondade das pessoas. Em partes porque eu assistia ao egoísmo com que as pessoas agiam diariamente, em partes porque só eu sabia que nas minhas tentativas de tentar dar meu melhor tinham que suprimir certo egocentrismo que existe intrinsecamente em cada ser humano. Mas tinha um lugar em que eu sabia que a bondade existia, e aos montes.
Nos meus primeiros dias no hospital, o que mais mexeu comigo foi a ala pediátrica. Aqueles pequenos, carequinhas, visivelmente abatidos fisicamente, mas que ainda continham um brilho intenso. Uma inocência celeste em relação ao mal que enfrentavam, e isso os dava uma força imensa, eles simplesmente lutavam, de maneira pura, sem ao menos saber a agressividade do seu adversário. Os recém chegados ainda apresentavam olhos assustados, e aos poucos iam se acostumando. As rotinas árduas dos tratamentos, a debilidade física causada pelos mesmos - além das da própria doença. E ainda assim elas sorriam, riam, brincavam.
Elas eram uma fonte de carinho que cativava de maneira ímpar todos que ali trabalhavam, e nos atingiam violentamente quando fatalmente partiam. Era uma injustiça imensa que fossem forçados a passar por isso ainda tão pequenos. Eu achava injusto até com os adultos, com eles, então... A doença era sutil, silenciosa e traiçoeira. Eu ouvia de vários pais que aquilo, infelizmente, era a vontade de deus. Se houvesse um deus, ele não haveria de permitir que aquilo acontecesse. Aquilo soava ridículo, eram pais justificando o sofrimento dos filhos como uma vontade divida.
Deus... Esse era mais um dos motivos que me faziam duvidar da bondade das pessoas. Uma mera barganha dos seus seguidores para que suas almas não queimassem eternamente no fogo do inferno. Aquilo não era sincero, não tinha legitimidade alguma. Essas seriam as mesmas pessoas que pendurariam Jesus de novo numa cruz. Esse que é uma das pessoas mais bondosas da história, e ele terminou julgado e condenado pelos próprios a quem ele supostamente viera salvar.
Em certas horas, tudo isso me consolava ainda mais quando eu me sentia o próprio diabo.
Cya.
quarta-feira, 30 de janeiro de 2019
quinta-feira, 17 de janeiro de 2019
Amanhã tão distante, tão longe de mim.
(...) Observei atento a cada um de seus passos enquanto ela subia as escadas e seus dedos deslizavam pelo corrimão de ferro. Os saltos dos seus sapatos emitiam um som peculiar enquanto ronpiam as pedras dos degraus, como se anunciassem de maneira sutil e eloquente uma saída triunfal. Ela abusara da oportunidade de poder usar um vestido daqueles em uma rara noite quente, pelo menos nessa época do ano, todo branco, que cintado ao seu corpo fazia de suas curvas algo absurdamente atraente. Sua presença enquanto caminhava era imponente e encantadora, predadora.
Permaneci imóvel, na calçada, a admirando, como fiz a noite toda. Durante o jantar, captei cada detalhe do seu jeito: tinha um sorriso tímido daqueles de apertar os lábios, misturando a inocência de uma menina com um charme diabólico, fazendo as covinhas se sobressaírem e formarem um par amável com seus dentes perfeitos. A maneira como os seus olhos miravam minha boca enquanto eu falava, feito duas opalas negras, fixadas com maestria num engaste branco, em um contraste perfeito com o contorno preto dos seus olhos, dançando no ritmo da minha fala. Sua companhia era fácil de aproveitar.
Ao chegar em frente sua porta, ainda sem preparar a chave para abri-la, me convidou para um café. Já era tarde, o sono alcoólico já havia flertado comigo e achei que seria interessante algum estímulo para que a caminhada solitária pelas calçadas até minha casa fosse menos agoniante, e eu aceitaria qualquer desculpa pra desfrutar só mais um pouco da sua companhia. Nos meus desejos mais otimistas, conseguir o beijo - mesmo que de despedida - que eu tanto desejei durante toda aquela noite.
Subi as escadas e tomei o rumo da porta, mas percebi que seu corpo não havia se movido para que eu passasse. Num ato de coragem e improviso, com uma mão apoiei sua cintura, com a outra fechei a porta atrás de mim. Em uma resposta rápida, senti seu corpo se aproximar do meu e os seus olhos devorarem o fundo do meu ser, sem suavidade, sem pudor. Os poucos centímetros que separavam sua boca da minha foram o suficiente para contrastar o seu hálito quente e inebriante com o frio na minha barriga.
Terminei por jogar meus braços completamente pela sua cintura e aproximar mais ainda seu corpo contra o meu, para que não houvesse espaço não preenchido entre nós dois. Seus dedos finos se entrelaçaram aos meus cabelos e rapidamente desceram pela minha nuca, meu pescoço e alcançaram meu peito, onde ela delicadamente desabotoava os primeiros botões da minha camisa. Percorri vagarosamente o caminho entre sua boca e seu pescoço, sentindo sua respiração acelerar enquanto meus lábios dançavam devagar em sua pele.
Pele essa que eu sentia a maciez com o paladar e o tato, mesmo que por cima do seu vestido. Seu cheiro doce me entorpecia, despertando algo em mim que nitidamente previa que qualquer ato controlado e racional da minha parte seria inútil. Ao terminar de desabotoar minha camisa, senti suas unhas levemente percorrerem minha pele, o suficiente para que ela se apoiasse confortavelmente em mim, empurrando meu corpo contra a parede do corredor e nos transformando num só.
A beijei como fosse a última coisa que eu faria na vida.
A beijei como fosse a última coisa que eu faria na vida.
domingo, 25 de novembro de 2018
Lucy in the sky with diamonds.
Ontem eu tava refletindo sobre a vida e percebi que as coisas começaram a realmente dar errado pra mim quando eu parei, sem querer, de dedicar pelo menos alguns minutos da minha semana pra ficar olhando o céu, sem motivo nenhum. Nunca agradeci o suficiente a Milena, quando a praticamente 10 anos atrás, ela fez com que eu me apaixonasse pelo céu e por tudo o que ele representa e signifca. Sempre foi uma das coisas que me revigoravam, que fazia com que eu ponderasse sobre o quão insignificantes nós somos diante de tanta imensidão, de tanta magnitude, de tanta beleza. Se você que tá lendo isso agora vive uma vida de merda e precisa de uns minutinhos pra se desligar da realidade e do que acontece ao redor de uma maneira saudável, sente-se e olhe o céu. Funciona.
Cya.
terça-feira, 2 de outubro de 2018
You gotta, oh.
"Whatever you do, don't ever play my game
Too many years being the king of pain
You gotta lose it all if you wanna take control
Sell yourself to save your soul
Rescue me from the demons in my mind
Rescue me from the lovers in my life
Rescue me from the demons in my mind
Rescue me, rescue me, rescue me
Rescue me
Whatever you do, don't ever lose your faith
The devil's quick to love, lust and pain
Better to say yes to never know, oh, oh
Sell yourself to save your soul" - 30STM.
Cya.
Too many years being the king of pain
You gotta lose it all if you wanna take control
Sell yourself to save your soul
Rescue me from the demons in my mind
Rescue me from the lovers in my life
Rescue me from the demons in my mind
Rescue me, rescue me, rescue me
Rescue me
Whatever you do, don't ever lose your faith
The devil's quick to love, lust and pain
Better to say yes to never know, oh, oh
Sell yourself to save your soul" - 30STM.
Cya.
quarta-feira, 29 de agosto de 2018
Coragem e medo.
Esse monte de bosta que eu vou vomitar agora parece coisa de Duncan, mas é só de Dante mesmo. Eu sempre me pego observando e invejando do meu esconderijo covarde a motivação que as pessoas tem de se aventurar pelo mundo, de abandonar certas coisas pra trás, de sair da sua zona de conforto, de tentar caminhos diferentes dos usuais. E apesar de ser frase de filme de herói, sempre me bate a reflexão de tentar entender até onde é coragem e até onde é medo o que motiva essas pessoas a fazerem sempre mais do que é esperado, dentro dos seus limites.
Assisti uma palestra do Eduardo Marinho em que ele diz que as pessoas sempre interpretaram a sua iniciativa de abandonar tudo como uma coragem invejável, enquanto ele afirma que o que mais o motivou foi o medo de ter uma vida sem sentido. Hoje, se eu me indago sobre o mesmo, é um medo excessivo. Um medo absurdo e infundado, quase que inconsciente, de tentar coisas novas. Medo digno de me fazer diariamente deitar na cama em posição fetal e esperar que um belo dia eu tenha a coragem de lidar com o o mesmo e finalmente dar cabo de tudo. De parar de ser covarde até pra isso.
Mas se há a opção de solucionar isso com um abandono absoluto de tudo, por que a minha vontade de não ter uma vida sem sentido não me motiva tanto quanto a sair daqui? A matar esse pessoa que me prende pra baixo e me esmurra a cara sempre que eu tento sair da minha jaula, de deixar nascer uma nova que vai ter a coragem o suficiente pra buscar algo novo? Novas perspectivas, novas visões, novas aventuras e novos caminhos.
O conteúdo dessa junção de palavras são o mesmo que tenho da vida: muitas perguntas, quase nenhuma resposta, menos ainda motivação, seja pelo medo ou pela coragem. Esse é o tipo de pessoa que a seleção natural teria facilidade em eliminar, não fossem as circunstâncias favoráveis que eu tivesse pra ter tempo de ficar na cama pensando nessas porcarias.
E quando se está parado, a perspectiva é de que o mundo tá passando cada vez mais rápido ao seu redor, de que você tem cada vez menos tempo pra tentar quebrar do casulo e voar, que as oportunidades de fazer tudo isso ficarão cada vez mais escassas. Como se não bastasse a pressão em que eu me coloco o tempo inteiro, sabotando qualquer vestígio de luz no fim do túnel, tem a pressão externa com que a gente tem que lidar. A analogia mais apropriada pra tudo isso é de que uma parede que vem de dentro te empurra dum lado, enquanto as perguntas de "você precisa se motivar, sair disso, precisa fazer algo da vida!" são a parede que te fecham do outro lado culminando num esmagamento.
Tudo que eu espero é que algo acabe me esmagando de vez mesmo, me libertando finalmente desse desespero.
Como eu digo desde o início do blog, a maioria das coisas que eu escrevo não faz sentido algum.
Cya.
Assisti uma palestra do Eduardo Marinho em que ele diz que as pessoas sempre interpretaram a sua iniciativa de abandonar tudo como uma coragem invejável, enquanto ele afirma que o que mais o motivou foi o medo de ter uma vida sem sentido. Hoje, se eu me indago sobre o mesmo, é um medo excessivo. Um medo absurdo e infundado, quase que inconsciente, de tentar coisas novas. Medo digno de me fazer diariamente deitar na cama em posição fetal e esperar que um belo dia eu tenha a coragem de lidar com o o mesmo e finalmente dar cabo de tudo. De parar de ser covarde até pra isso.
Mas se há a opção de solucionar isso com um abandono absoluto de tudo, por que a minha vontade de não ter uma vida sem sentido não me motiva tanto quanto a sair daqui? A matar esse pessoa que me prende pra baixo e me esmurra a cara sempre que eu tento sair da minha jaula, de deixar nascer uma nova que vai ter a coragem o suficiente pra buscar algo novo? Novas perspectivas, novas visões, novas aventuras e novos caminhos.
O conteúdo dessa junção de palavras são o mesmo que tenho da vida: muitas perguntas, quase nenhuma resposta, menos ainda motivação, seja pelo medo ou pela coragem. Esse é o tipo de pessoa que a seleção natural teria facilidade em eliminar, não fossem as circunstâncias favoráveis que eu tivesse pra ter tempo de ficar na cama pensando nessas porcarias.
E quando se está parado, a perspectiva é de que o mundo tá passando cada vez mais rápido ao seu redor, de que você tem cada vez menos tempo pra tentar quebrar do casulo e voar, que as oportunidades de fazer tudo isso ficarão cada vez mais escassas. Como se não bastasse a pressão em que eu me coloco o tempo inteiro, sabotando qualquer vestígio de luz no fim do túnel, tem a pressão externa com que a gente tem que lidar. A analogia mais apropriada pra tudo isso é de que uma parede que vem de dentro te empurra dum lado, enquanto as perguntas de "você precisa se motivar, sair disso, precisa fazer algo da vida!" são a parede que te fecham do outro lado culminando num esmagamento.
Tudo que eu espero é que algo acabe me esmagando de vez mesmo, me libertando finalmente desse desespero.
Como eu digo desde o início do blog, a maioria das coisas que eu escrevo não faz sentido algum.
Cya.
segunda-feira, 27 de agosto de 2018
Longe do horizonte.
Lorann era uma frágil efígie que parecia ter nascido como uma das mulheres mais maravilhosas que eu em infinitas vidas não ousaria sonhar. Nas qualidades que tínhamos em comum me superava, e nos defeitos me mostrava, numa apresentação homérica, como eu deveria ser. Estar na companhia dela era como uma tarde no parque, onde nos deitávamos de frente para o céu azul com ligeiras pinceladas de cinza, sentindo o cheiro gostoso que emanava da grama verde que fora beijada pelo orvalho da manhã, ouvindo o som dos galhos das árvores valsando em harmonia com o vento, observando a queda das folhas amareladas que cortavam o ar, girando e flertando com a queda iminente ao chão.
Eu fiquei por um longo momento sentado no chão, escorando minhas costas na parede gelada, encarando de frente a porta dela com a minha expressão mais pálida. Essa porta, que eu sabia que não se abriria mais. Não havia mais chave por cima da lamparina de metal, da qual eu havia reforçado para que ela não queimasse as pontas dos dedos quando a recolhesse. O sorriso de bordas curvadas não sairia mais dali, aquela paz jamais viria de novo ao meu encontro, ela não me pertencia mais. Nunca pertenceu. Eu tinha me apaixonado por tudo de bom que ela representava, pelo refúgio que minha mente rebelde encontrava na manumissão graciosa que ela dispunha ao meu ego flagelado.
O seu espírito livre me emprestava a sensação que há muito me havia sido privada e, mesmo depois de tudo que compartilhamos, eu sabia que ela não era minha. Eu não podia entregá-la essa responsabilidade de pertencer a alguém, principalmente a mim. Por momentos, eu a tinha comigo. Mas se eu a tivesse de vez, a aprisionaria na mesma cela suja e gelada em que eu vivia. Deixei-a ir. O céu que ficava há poucos metros do meu inferno se foi, voltando ao estado natural, aquele que apenas os limites do horizonte uniam. Meu inferno pessoal, que só pertencia a mim. Aquele que eu não poderia mais convidar alguém pra visitá-lo. Nunca mais.
Eu fiquei por um longo momento sentado no chão, escorando minhas costas na parede gelada, encarando de frente a porta dela com a minha expressão mais pálida. Essa porta, que eu sabia que não se abriria mais. Não havia mais chave por cima da lamparina de metal, da qual eu havia reforçado para que ela não queimasse as pontas dos dedos quando a recolhesse. O sorriso de bordas curvadas não sairia mais dali, aquela paz jamais viria de novo ao meu encontro, ela não me pertencia mais. Nunca pertenceu. Eu tinha me apaixonado por tudo de bom que ela representava, pelo refúgio que minha mente rebelde encontrava na manumissão graciosa que ela dispunha ao meu ego flagelado.
O seu espírito livre me emprestava a sensação que há muito me havia sido privada e, mesmo depois de tudo que compartilhamos, eu sabia que ela não era minha. Eu não podia entregá-la essa responsabilidade de pertencer a alguém, principalmente a mim. Por momentos, eu a tinha comigo. Mas se eu a tivesse de vez, a aprisionaria na mesma cela suja e gelada em que eu vivia. Deixei-a ir. O céu que ficava há poucos metros do meu inferno se foi, voltando ao estado natural, aquele que apenas os limites do horizonte uniam. Meu inferno pessoal, que só pertencia a mim. Aquele que eu não poderia mais convidar alguém pra visitá-lo. Nunca mais.
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