quarta-feira, 9 de abril de 2025

Melhor do que nada.

Há alguns anos, escrevi que as dores do coração e da alma (peço perdão pela hermeneutica patética) se tornavam cada vez mais fáceis de serem digeridas e enfrentadas quando enxergávamos as verdadeiras formas que elas possuiam. Que os golpes desferidos em nossa direção tornavam-se desviáveis ou aparáveis quando sabíamos o que tinha a intenção de nos atingir. Que suprimíamos com mais facilidade o que vinha em nossa direção.

"Nenhuma experiência é individual (sic)", diriam, exceto a depressão. Essa, que diferente de tudo o que acontece na nossa vida, mesmo diante de infinitas possibilidades randômicas ainda permite que saboreemos o que outra pessoa, em algum momento, tempo e espaço já saboreou, torna a dor - ou a ausência desta - uma coisa singular.

Refletindo sobre a depressão em si, como experiência, cheguei à conclusão de que a "passagem", que demanda àspas bem aplicadas, tem sabores e dislates conflitantes entre as fases, e que por mais que o contraste entre a euforia e o torpor tenha cores parecidas quando ouvimos os relatos de outras pessoas estando no meio de uma ou em transição entre ambas, jamais é igual.

Nessa semelhança, reconhecemos pontos importantes. Nas melancólicas, assim como citei acima, ainda temos um fio ou uma ponta de esperança. Não em algo concreto, bem definido. Mas de que algo ou alguém deteria força capaz de - surpreendentemente - nos tirar daquele buraco onde afundamos constantemente; ou então de que uma corda enroalda ao pescoço ou um tiro mirado nas têmporas poria fim ao sofrimento. E quando na fase do torpor, tomamos consciência plena de que não há um dia sequer que valha ser vivido, seja esse dia num futuro breve ou não; ou até mesmo de que nem o suicídio seria uma saída ou solução plausível pra nada, de que nem a morte seria uma fuga pra essa ausência de sentir e de sentido que não é capaz nem de nos consumir mais.

A morte como resultado, seja o meio qual for, demanda uma energia que não mais se possui. E nessa exaustão, percebemos que já somos cadáveres há muito tempo. Somos formas zumbificadas, que se relacionam com os amigos, vão ao trabalho, realizam as tarefas domésticas. Executamos tudo de forma reativa, gastando o pouco da energia não exaurida que nos resta pra apenas responder e nos tornarmos minimamente funcionais - embora na versão final desse texto, "funcional" ainda não soe como o termo correto.

A morte, ainda como resultado, não se mostra solução, porque enquanto estamos presos em nossas próprias mentes, nos ausentamos de forma legítima, onde a nossa presença não é mais o suficiente porque não temos muito - ou quase nada - a oferecer. Somos só um reflexo do que já fomos um dia. São nesses momentos em que a depressão se revela na sua pior forma: a de ultimato. Não precisamos estar mortos para nos reconhecemos como assombrações reais, horrorizando as pessoas que nos amam, um mero simulacro de carne perambulando pelo dia a dia, um abantesma pregado à vida dos que nos cercam.

Hoje, sem nenhum otimismo errante, diante de tanto dislate, percebo que nada é pior do que saber o porquê de apanharmos. De onde vem os socos. Qual a forma real do inimigo. Nada é pior do que não sentir nada - a não ser a frustração de não sentir nada além da própria frustração.


Cya.

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2025

terça-feira, 7 de janeiro de 2025

Am I the devil?

"The tales of lies and all those things
We tought about those days
The certainty that judgment brings
And all those petty ways
The papers on the desk that day
The sun is coming soon
If I could force another smile
It'd probably be for you

So lay here baby, drink this wine
We've got music in our hearts
But the devil's got his place in me
And there's no color to his art
So I'll lay my head with spinning stars
And the poet's broken dream
And sip this poison while I dance to this off tempo beat
And I feel those broken in my heart
Their tears are like my own
I see the fields where blood is spilt
Where all good men turn to bone
And the torture of a thousand years of human story
The killing of the innocent while the wealthy sow their seeds

So lay here baby, drink this wine
We've got music in our hearts
But the devil's got his place in me
And I don't know where to start
So I'll lay my head with spinning stars
And the poet's broken dream
And sip this poison while I dance to this off tempo beat
And I'll fall asleep forever more
My face will never show
I'll leave your house at 5 a.m.
Kiss your cheek before I go
And I'll write down all those precious words that I could never say
'Cause the devil's got his place in me
And I'm meeting him today" - Corey Taylor.

Cya.

Retrato.

"Eu não tinha este rosto de hoje,
Assim calmo, assim triste, assim magro,
Nem estes olhos tão vazios,
Nem o lábio amargo.

Eu não tinha estas mãos sem força,
Tão paradas e frias e mortas;
Eu não tinha este coração
Que nem se mostra.

Eu não dei por esta mudança,
Tão simples, tão certa, tão fácil:
— Em que espelho ficou perdida
a minha face?" - Cecília Meireles.

Cya.

Of the man that I was meant to be.

"I tried it once before but I didn't get too far
I felt a lot of pain but it didn't stop my heart
And all I really wanted was someone to give a little fuck
But I waited there forever and nobody even looked up

I tried it once before and I think I mighta messed up
I struggled with the veins and I guess I didn't bleed enough
But maybe I'm alive because I didn't really wanna die
But nothing very special ever happens in my life

I tried it like before and this time I made a deep cut
I thought about my friends and the way I didn't give enough
And I shoulda told my mother "mom, I love you" like a good son
But this life is overwhelming and I'm ready for the next one

I tried it once again and I think I might black out
I shoulda left a letter but I had nothing to write about
My blood is all around me, I get dizzy if I stand up
The cutting part was easy but regretting it is so fucked

Take the blade away from me
I am a freak, I am afraid that
All the blood escaping me won't end the pain
And I'll be haunting all the lives that cared for me
I died to be the white ghost
Of the man that I was meant to be, yeah" - Badflower.

Cya.