"Eu precisava daquela luz pra ter a minha dose de escuridão. Precisava daquela companhia pra ter meu pedaço de solidão. Alguns sonhos e muitos planos que, no final das contas, tornaram-se tão grandes ao ponto de ser quase impossível pra qualquer areia do tempo ou roda da vida conseguir desmantelar. Era uma estrutura corpulenta que, mesmo esculpida e talhada em vidro, vivendo constantemente alvejada por ataques de grandes chuvas de pedras, nunca sucumbiu. A destruição um dia veio, e partiu do lado de dentro, sendo corrompida internamente como uma criatura que se contorce em gemidos de agonia engasgada com o próprio veneno, esvaindo-se em inúteis esforços pra manter-se presa a qualquer faísca de vida que aos poucos é roubada pelo ácido letal. Gritos e sufoco, tentativas aflitas de tomar algum fôlego antes que sua carcaça pereça e sua alma seja sugada pra profundidade do obscuro desconhecido. Para os que ficam, tudo o que se conhece por um longo período é apenas a morbidez e a tristeza de viver a cada dia se apoiando em uma estrutura falida, buscando uma desesperada maneira de emergir dos escombros apoiando pedras que não se encaixam e caem por terra frustrando toda e qualquer tentativa de buscar um novo caminho pra subir. Luz no fim do túnel não há, e companhia no corredor escuro e úmido? Quiçá."
Cya.
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